Bilhete Único privatizado e poluído

Os efeitos da privatização de serviços públicos em países subdesenvolvidos e de democracia precária tendem a ser catastróficos. Desde a criação do Bilhete Único (ainda na gestão de Marta Suplicy), a venda e recarga de cartões na cidade de São Paulo é operada por uma empresa privada.

A Rede Pague Express, que não possui sequer site na internet, é a responsável pela gestão de um mercado que movimenta R$360 milhões por mês.

O Bilhete Único, a integração tarifária e a implantação dos corredores Passa Rápido foram medidas significativas de estímulo ao transporte coletivo na capital implantadas pela gestão petista. Tanto que Marta Suplicy começou a distribuir os cartões (na cor vermelha) em 2004, ano de eleições municipais. A gestão tucana Serra-Kassab logo tratou de mudar a cor do bilhete, lançando a versão azul no meio da eleição presidencial para alavancar a campanha de seu candidato Geraldo Alckmin.

Privatizado, o Bilhete Único não serve apenas como “santinho high-tech” em campanhas eleitorais. Uma fabricante de motos irá imprimir a sua marca em 150 mil cartões da cidade. A estratégia de marketing visa atrair usuários do transporte público para o transporte individual motorizado, seguindo a velha máxima da democracia brasileira: soluções privadas para problemas públicos.

A tal fabricante de motos, em um comercial do modelo que se apresenta como alternativa popular ao “transporte público ruim”, traz o nojento slogan “Numa Honda tudo é ‘pop’, só não é ‘pop’ andar a pé”…

Uma moto polui mais do que um ônibus. Se multiplicarmos a emissão de polentes das motocicletas por 50 (média de passageiros de um coletivo), chegamos a conclusão de que as motocicletas são grandes responsáveis pela poluição na cidade.

É lamentável que a Prefeitura de São Paulo permita a inserção de anúncios de desestímulo ao uso do transporte público no cartão que possibilita as viagens.

É lamentável que a Prefeitura permita o estímulo à poluição sonora e atmosférica no ano em que a consciência ambiental virou ‘pop’. Será que basta pagar alguns tostões para poder inserir anúncios no Bilhete Único dizendo “você ainda anda de ônibus, seu fracassado? Venha poluir usando transporte individual motorizado!”.

Ou será que Prefeitura não se julga responsável pelas ações de empresas que operam concessões públicas? Será que estas são as “regras do jogo” nos países subdesenvolvidos?

De certo, apenas a lembrança de Guy Debord: a moto, nada mais é, do que um subproduto do automóvel. Ela não tem nada a ver com bicicletas, transporte público nem com os pedestres.

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