Reflexões de setembro

Depois da Bicicletada do Dia Sem Carro, quando mais de 300 pessoas ocuparam as ruas para celebrar alternativas de mobilidade urbana e questionar a primazia do automóvel particular sobre os demais modos de transporte, os participantes da massa crítica paulistana acharam que era importante iniciar uma série de reflexões sobre a iniciativa civil que acontece desde 2002 em São Paulo.

A tradicional concentração lúdico-educativa na Praça do Ciclista teve muita conversa. Relações com a mídia, com o poder público, com a polícia, segurança e postura dos participantes durante as atividades e uma longa discussão sobre “o que é a Bicicletada”.

Foi apenas um começo de conversa, que deve continuar a acontecer na lista de discussão por e-mail e nos encontros mensais. A Bicicletada é uma iniciativa horizontal, sem líderes ou organização formal, um movimento caracterizado pelo encontro de indivíduos diferentes em um determinado tempo e espaço.

Se o Dia Sem Carro trouxe a alegria de ver que existe muita gente disposta a agir pela humanização das cidades, também trouxe a alguns dos participantes um pouco de medo: como manter os princípios de auto-organização e, ao mesmo tempo, lidar com “ameaças” externas e internas inerentes a qualquer iniciativa que tenha muita gente?

As experiências internacionais mostram que a massa crítica (e não só ela) está sujeita a uma série de “intempéries” que muitas vezes são difícieis de equacionar: cooptação por políticos, participantes agressivos durante as pedaladas, ataques da mídia de massa, disputas de ego, reações violentas de motoristas, agressões policiais e judiciais, apropriação comercial das iniciativas, desrespeito dos participantes aos usuários de outros meios de transporte….

A convivência entre os seres humanos não é fácil. Resistir ao poder do automóvel e de suas indústrias associadas (petróleo, publicidade, biocombustíveis, pneus, asfalto, montadoras e órgãos de trânsito) segue caminhos ainda mais tortuosos.

Respeitar a pluralidade de opiniões e ações também é complicado para boa parte dos seres humanos. Mas os exercícios de democracia que envolvam a participação direta das pessoas são imprescindíveis para qualquer sociedade, não importando para que lado sopre o vento.

Depois da conversa, cerca de 50 pessoas pedalaram pelas ruas de São Paulo, panfletaram e celebraram a construção de cidades humanas.

A Bicicletada terminou na Praça do Ciclista, com uma “Pizza delivery” e mais conversa.

Já passava das 11 horas da noite e o trânsito de automóveis ainda era infernal na avenida Paulista. Que a massa silenciosa dos pedais a girar continue nas ruas!

[vídeo]

Fotos boas nos álbuns abaixo:

[contraponto e fuga]

[pedalante]

[luddista]

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