O painel pintado na Praça do Ciclista pela artista Mona Caron durante a bicicletada de novembro já não existe mais. Foi apagado pelo programa Cidade Limpa, Muro Cinza no final de 2007.
Afinal, as câmeras da Globo que televisionaram a tradicional corrida de São Silvestre não podiam mostrar arte, apenas anúncios de seus patrocinadores.
É triste ver a arte urbana desaparecendo da cidade, confundida com propaganda ou poluição visual.
Mais triste ainda é saber que o fim da publicidade nas ruas é temporário, já que a idéia é abrir caminho para que corporações como a Clear Channel ou a J.C. Decaux monopolizem a mídia exterior na cidade.
A Clear Channel, gigante de mídia que possui mais de 1000 emissoras de rádio no EUA, é gerida por um grupo de fanáticos religiosos com conexões diretas na Casa Branca de George Driver Bush.
Depois da queda das Torres Gêmeas em 2001, a empresa divulgou um “Index” de músicas “não recomendadas” para suas emissoras afiliadas.
Entre as músicas “anti-patrióticas” proibidas pela Clear Channel estava “Imagine”, de John Lennon.
A foto acima é do “Muro John Lennon”, em Praga (República Checa). Quando o ex-Beatle foi assassinado em 1980, alguns fãs resolveram fazer um túmulo “falso”.
Como em toda sepultura, a lápide tinha que ser preenchida com homenagens ao falecido: grafitis, frases, letras de música, poesias e manifestos começaram a aparecer no muro ao lado do “túmulo”.
Ainda sob o domínio soviético, a música pop ocidental não era bem-vinda na então Tchecoslováquia e a homenagem a Lennon foi vista pelas autoridades locais como uma “ação subversiva contra o Estado”.
O muro foi pintado de branco e os epitáfios foram apagados. Poucos dias depois, outras frases, textos e manifestos começaram a surgir durante a madrugada.
A “ação subversiva contra o Estado” se repetiu durante algum tempo: as frases apareciam, as autoridades apagavam.
Água mole em pedra dura… Hoje o “Muro John Lennon” é atração turística em Praga, continua a ser grafitado com mensagens de paz, manifestos políticos e homenagens ao músico.
Mesmo que os senhores da guerra, da mídia ou dos muros cinzas continuem tentando abrir espaço para invasões militares ou publicitárias, “Imagine” continuará a ser cantarolada por pacifistas em todos os cantos do planeta, a arte nunca será enclausurada e as bicicletas jamais perderão suas asas.
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