Parabéns, São Paulo: chegamos aos 6 milhões

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Segundo esta reportagem, na quinta-feira (21) a frota de veículos motorizados da cidade de São Paulo alcançou o fabuloso número de seis milhões de unidades. Deste total, 75% são automóveis (4,5 milhões).

Quem causa o trânsito? Quem polui o ar? Quem provoca o abandono do espaço público?

O recorde é fruto do “desenvolvimento” da metrópole que não podia parar. Por “desenvolvimento”, leia-se: consumismo, individualismo, desperdício de recursos naturais, precarização do trabalho, formatação do território para atender a acumulação e o fluxo de riquezas (sem distribuí-las), produção de lixo, implantação de políticas que beneficiam e enriquecem alguns poucos em detrimento de todos, privatização ou abandono dos espaços públicos.

Não houve sequer um governo (federal, estadual ou municipal) desde 1950 que ousou enfrentar a máfia automobilística e racionalizar o uso do automóvel. Pelo contrário: todos acreditam nas obras viárias e na concessão de benesses ao uso do automóvel como a melhor forma de conquistar votos.

De fato, a população adora um novo viaduto com o nome de algum ilustre canalha, mesmo que a nova ponte seja vetada ao transporte coletivo, à pedestres ou bicicletas. Todos querem um carro. Com ele, o sujeito se sente livre e poderoso: ascende a um novo extrato social.

Ué, mas não é isso que a tevê ensina em comerciais, novelas e filmes? Ou alguma celebridade ou político aparece na tevê saltando de um ônibus ou caminhando pelas ruas?

Romper com a hegemonia do automóvel e enquadrá-lo em um uso racional é uma das tarefas mais importantes deste novo século. E essa tarefa não será feita por agências de publicidade, departamentos de marketing ou discursos políticos.

A construção de cidades humanas, onde o barulho, a poluição, o congestionamento e a agressividade não sejam a regra, se dá na prática, com ações concretas, mudanças de hábitos, paradigmas e políticas.

Cabe aos cidadãos se livrarem de desculpas como “o transporte público é ruim” e, pelo menos, caminharem até a padaria da esquina.

Começa com o hábito de deixar o carro em casa no dia do rodízio e vivenciar um dia de “realidade” dentro de um ônibus, em cima de uma bicicleta ou sobre dois pés, e não mudar os horários de trabalho por não conseguir se livrar da carro-dependência.

Aos governantes, atitutes e políticas para as cidades devem realmente retirar o excesso de espaço e privilégios dedicados aos automóveis, beneficiando toda a população, e não apenas aqueles que se locomovem em máquinas. E isso não será feito com migalhas que sobram das pontes, estradas e túneis…

Por hora, um brinde à indústria automobilística e ao desenvolvimento suicida que faz abrir o sorriso na cara de comentaristas econômicos, políticos e especuladores em geral.

Parabéns, São Paulo!

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