Enquanto isso, em Paris

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Enquanto a prefeitura de São Paulo pensa em abrir os calçadões para os automóveis e reduz o subsídio ao transporte público, a capital francesa dá exemplo para evitar cenas como a da foto acima.

A matéria abaixo foi retirada da revista Label France. Veja também esta outra matéria do The Times (em inglês): Paris bans cars to make way for central pedestrian zone.

Paris declara guerra aos automóveis
Por Emmanuel Thévenon

Em meados de 2001, Paris declarou guerra aos automóveis e aos prejuízos que estes acarretam: barulho, poluição, engarrafamentos, etc. Denis Baupin, vice-Prefeito de Paris e responsável pelos Transportes, pretende “reduzir em 50%, até 2010, o total das emissões poluentes na capital“. Para atingir uma meta tão ambiciosa, a capital deu início a um número impressionante de obras destinadas a limitar o espaço que o automóvel ocupa na cidade.

Mas como convencer os motoristas a abrirem mão do carro na locomoção intramuros? Inicialmente, é preciso atingi-los em cheio, isto é, no bolso. Em Londres, por exemplo, o acesso ao centro da cidade é pago e, em Paris, as 50.000 vagas de estacionamento gratuito que restavam desapareceram. Além disso, novas vagas pagas, a preços acessíveis (10 euros mensais), serão criadas, para atender as necessidades dos moradores do centro, o que deverá encorajá-los a deixar o carro na garagem.

Outra iniciativa são os “bairros verdes”, espaços de convívio para seus habitantes, mas verdadeiros labirintos para os motoristas corajosos que neles se aventuram. O primeiro, implantado em meados de 2002 no XIVº distrito, causou tumulto: os motoristas não esperavam as repentinas mudanças de sentido da circulação, que provocaram uma série de engarrafamentos inexplicáveis e despertaram a ira dos habitantes do bairro. Apesar deste início caótico, o movimento de arborização irá estender-se a outros vinte bairros, sobretudo o centro de Paris, que terá um limite de velocidade de 30 quilômetros por hora.

Espaços civilizados

Todo dia, o Bulevar Magenta (X distrito) absorve 30% do tráfego rodoviário da capital! Como ele, outras grandes avenidas de Paris tornaram-se paulatinamente verdadeiras auto-estradas urbanas. Para canalizar o fluxo incessante de carros, essas vias serão transformadas em “espaços civilizados”, locais democraticamente compartilhados pelos usuários. No eixo Clichy-Rochechouart, as obras já começaram: as calçadas ganharão 50 centímetros de largura e, do lado esquerdo da rua, uma via será reservada aos ônibus nos dois sentidos de circulação, enquanto as bicicletas circularão livremente em novas ciclovias margeadas por árvores.

O retorno do bonde

Se, por um lado, há dissuasão, por outro, os franceses têm sido encorajados a utilizar meios de transporte alternativos, como o metrô, rápido e confortável, apesar de sua rede subterrânea estar saturada. A única benfeitoria possível é o prolongamento da linha 14 até a estação Saint-Lazare. No futuro, a prefeitura de Paris terá que promover a utilização da infra-estrutura de superfície, aumentando consideravelmente a oferta de transportes alternativos, como os novos ônibus da rede Mobilien (que fazem parte do programa de modernização).

Com 40 km implantados por ano até 2005, essa rede abastecerá, com rapidez e regularidade, 17 linhas parisienses e 45 linhas do subúrbio, proporcionando maior conforto aos usuários (informações em tempo real, ar condicionado, etc.). Os primeiros resultados são encorajadores, pois a poluição diminuiu e a utilização dos ônibus Mobilien aumentou de forma espetacular. Assim, o ônibus do Pequeno Cinturão (PC1), cujo itinerário segue os bulevares circulares “Maréchaux” (grandes avenidas que circundam o centro da cidade), ganhou a preferência de cerca de 45% dos usuários de transportes públicos desde sua modernização.

Outra grande novidade será o retorno do bonde intramuros em Paris, no final de 2006, um verdadeiro evento para a Cidade das Luzes, cujo último bonde foi aposentado em 1937. Com 8 km de comprimento, a nova linha ligará inicialmente a Ponte do Garigliano, na zona sudoeste, à Porta de Charenton, no leste da cidade. Depois, irá até a Porta de Bagnolet, percorrendo um total de 13 km. Modernos e rápidos, seus vagões, de 43 metros de comprimento e cerca de 300 lugares, possibilitarão o transporte de cerca de 10.000 passageiros por hora, com a freqüência de um bonde a cada dois minutos: uma capacidade de transporte quatro vezes maior que a dos ônibus que circulam no Pequeno Cinturão. Acessível às pessoas com dificuldade de locomoção, os itinerários do novo bonde terão conexão com os outros meios de transporte (ônibus, metrô, RER*, etc.).

Paris de bicicleta

Muito utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, a bicicleta acabou ficando em último lugar no ranking das políticas de transportes parisienses, representando apenas um por cento das locomoções! Apesar de um urbanismo denso e de uma rede repleta de ruelas, Paris tem tudo para se tornar uma cidade para ciclistas. Além disso, os tempos estão mudando: são mais de 197 km de vias, das quais 27 km nos parques, cerca de 50 novos corredores de ônibus e 85 km de ciclovias.

Até 2010, serão construídos 300 km de pistas suplementares, a começar pelos ” bairros verdes “, seguidos dos seis “eixos civilizados” e dos bulevares sul Maréchaux (itinerário do futuro bonde), com a implantação de 70 km de vias exclusivas para ônibus programada para 2003 e 2004. Outro projeto visa facilitar a locação de bicicletas e ampliar os estacionamentos em prédios e vias públicas.

Descongestionar as vias periféricas

A administração de Paris optou por investir nas vias transversais (bonde, trem urbano, ônibus Mobilien), buscando descongestionar os bulevares Maréchaux e o impressionante anel viário do bulevar periférico. Os bulevares serão remodelados, com a implantação do bonde e o bulevar periférico deve receber uma cobertura. Além disso, várias portas de Paris serão reformadas, com o apoio das administrações dos departamentos e municípios interessados, levando em conta uma preocupação a mais: a estética.
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