USP X bicicletas: mais um capítulo

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Não tive como ir até a USP para verificar, mas chegou ao meu conhecimento que a Caloi colocou dois outdoores na entrada do campus (imagem acima). Na semana passada foi anunciado também que o autódromo de Interlagos será aberto para o treino dos atletas que praticam ciclismo.

A boa e lúcida campanha da Caloi segue a linha do chamado “bike advocacy” (defesa das bicicletas), que começa a ser usado com mais freqüência na estratégia de marketing da empresa. O primeiro passo foram os cinco filmes publicitários protagonizados pelo VJ Edgard Picolli, que mostrava nas ruas as vantagens da bicicleta como meio de transporte.

Já não era sem tempo: segundo pesquisa da Abraciclo, 53% da frota de bicicletas é de uso urbano e não dos caros modelos esportivos (apenas 1%). Resta torcer para que o preço das bicicletas também siga esta tendência de oferta/demanda: enquanto uma bicicleta de uso urbano da Caloi não sai por menos de R$600, uma mountain bike é oferecida pela metade do preço.

Interlagos é muito longe
A decisão de abrir o autódromo para os atletas órfãos da USP deverá agravar a situação kafkaniana da capital mais motorizada do país. Certamente os ciclistas-atletas vão reclamar que o autódromo de Interlagos é muito longe. Afinal, boa parte dos atletas que treinava na USP não usa a bicicleta como meio de transporte. Para levar suas bicicletas de carro até o autódromo, terão que enfrentar um trânsito insuportável.

Estranho paradoxo: os atletas não treinam nas ruas porque são ameaçados e desrespeitados pelos motoristas, além de enfrentar o asfalto esburacado pelo peso dos motorizados. Aí vão até a USP de carro e lá dentro passam a ameaçar e desrespeitar pedestres e motoristas.

Para resolver o problema da forma mais fácil, a USP resolveu proibir todos os ciclistas, deixando a universidade livre para o automóvel, meio de transporte mais nocivo à vida nas cidades. Os atletas, que eram o “problema” apontado pela USP, ganharam então um novo lugar para treino. Só que este lugar é bem pior, exatamente por causa do trânsito causado pelos automóveis dos próprios atletas e dos outros motoristas.

Boa parte dos atletas que reivindicam o espaço de treinamento perdido não participa das ações de promoção da bicicleta como meio de transporte. Talvez esta seja uma boa oportunidade para que estes se aproximem dos ciclistas urbanos na luta por uma cidade mais agradável (e não apenas para exigir espaço de treinamento). Afinal, todos foram prejudicados pela medida da USP e todos vivem nesta cidade caótica, poluída e congestionada.

Triste mesmo será se os atletas se contentarem com o novo local e os ciclistas urbanos continuarem proibidos de circular na USP. Teremos então um velódromo dentro de um local destinado aos carros (Interlagos) e um autódromo na USP, espaço que deveria estimular meios de transporte inteligentes como a bicicleta. Paradoxos do subdesenvolvimento.

(leia também outro texto publicado anteriormente neste blog ou a matéria do Estadão sobre a abertura do autódromo para os atletas)

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