Nova Orleans e a miséria americana

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O aviso foi mais ou menos assim: “pegue suas coisas e saia da cidade, pois o furacão pode ser perigoso”. Milhares de motoristas encheram seus veículos com quinquilharias, pegaram a família e saíram em massa pelas congestionadas auto-pistas da Louisiana. (foto: Dave Martin, AP)

Muitos ficaram na cidade. Alguns por decisão própria, outros por total falta de condições para sair: ter um carro, um parente em outro estado ou dinheiro sobrando para bancar estadia em hotel não é para qualquer um. Mesmo a nação mais rica do mundo ainda conta com uma boa parcela menos favorecida. Ficaram, como diria Caetano Veloso, os “pretos e pobres, que são quase todos pretos”.

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A foto acima foi tirada por Margaret Bourke-White durante a Grande Depressão dos anos 30, mas serve como irônica e triste metáfora para a Nova Orleans da era Bush. “O mais alto padrão de vida do mundo”, diz o cartaz atrás da fila de desempregados.

Nos dois dias seguintes ao furacão, o presidente estava de férias no seu rancho. No terceiro dia, mandou um grande efetivo da Guarda Nacional e anunciou que saqueadores seriam fuzilados. Abaixo, a distinção necessária para uma região que só reconheceu formalmente os direitos civis dos negros na década de 1960.
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À esquerda, uma foto da Reuters. A legenda divulgada dizia que o casal tinha “acabado de encontrar pão e refrigerante em um supermercado local”. Na foto à direita, a legenda da Associated Press afirmava que o rapaz tinha “acabado de saquear um supermercado”.

Na Meca do jazz os corpos continuam boiando e o lixo da sociedade mais consumista do mundo ainda não foi recolhido. Mesmo assim, as tropas imperiais seguem em guerra pela imposição da “liberdade e da democracia” ao redor do mundo. Mais de 25 mil civis iraquianos foram mortos até agora. Em Nova Orleans, estima-se em 10 mil as vítimas da omissão governamental. Afinal, alguém tem que buscar combustível barato para alimentar os automóveis nos casos de emergência.

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