Mais uma vez o dinheiro venceu o bom senso. Em nome dos interesses de comerciantes e especuladores do centro, os históricos calçadões começaram a ser fechados para os seres humanos não motorizados.
A foto acima é da rua 24 de maio, a primeira vítima. Abrir os calçadões para o fluxo de veículos foi a idéia mais estúpida desde a construção do Minhocão (a via expressa construída por Paulo Maluf, que jogou a pá de cal no centro na década de 70).
O argumento oficial é que a área central precisa ser “requalificada” e que o fluxo de veículos irá trazer a classe média de volta ao centro. É fato que boa parte da classe média paulistana não abandona seus carros e morre de medo de andar nas ruas (apesar de já terem sido assaltados diversas vezes dentro de seus automóveis). Também é fato que o comércio e a classe média são atores fundamentais em qualquer espaço urbano e não podem ser desprezados.
No entanto, existe uma boa parcela desta mesma classe média que estaria disposta a um passeio de metrô ou ônibus se estes meios de transporte fossem valorizados e estimulados pelo poder público. Outros optariam por bicicletas ou pelas próprias pernas. Alguns argumentam que os calçadões foram tomados pelos camelôs e que a idéia utópica de um espaço livre para o passeio foi por água abaixo com o caos provocado pelos ambulantes.
A estupidez consiste em tentar solucionar um problema urbano com a criação de outro. É fato que os camelôs se espalharam de forma desorganizada, criando um grande entrave ao “desenvolvimento” de diversas regiões.
Mesmo se deixarmos de lado as razões sociais e econômicas que levam ao comércio informal, a “solução” para o “problema urbanístico” dos camelôs não passa pela abertura de novas vias, mas sim pela erradicação da corrupção de fiscais e guardas municipais e pela organização do espaço público para atender aos iteresses da maioria.
No mundo inteiro acontece a criação áreas livres de carros. O automóvel particular como forma prioritária de transporte ocupa muito espaço e recursos da cidade, degrada o patrimônio, traz barulho e poluição e gera a situação de caos e imobilidade que é marca de São Paulo neste começo de século.
Vale lembrar ainda que apenas 30% da população paulistana possui automóvel. Ou seja, o fim dos calçadões é uma medida que atende os interesses da minoria absoluta da população. Também é mais uma atitude que reforça o caráter higienista desta administração: em vez de garantir segurança, informação e estrutura para estimular a classe média a utilizar o farto transporte público que abastece o centro, a prefeitura preferiu expulsar os pobres para que as carruagens blindadas circulem livremente pela região.
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