Sexta-feira, véspera de feriado, final da tarde: milhares de veículos passam em fluxo contínuo de 30km/h nas seis pistas da Rubem Berta, parte do maior eixo viário de pistas expressas (sem semáforos) da cidade. A velocidade máxima exibida nas placas lembra ao motorista o sonho do comercial da TV: 80km/h.
De cima do viaduto, depois de tirar a foto encontro um ciclista que tinha passado por mim pouco antes. Na primeira ocasião, nos cumprimentamos ao reclamar de carros que obstruiam a faixa de pedestres. Em cima do viaduto, começamos a conversar sobre o caos motorizado, a bicicleta, profissões, vídeo…
Decido indicar este blog ao colega, falo do vídeo Sociedade do Automóvel, ele também trabalha com vídeo. Estava sem caneta, ele também. Ele tenta anotar o endereço no celular. Muito difícil escrever naquele teclado minúsculo.
Outro ciclista se aproxima, pergunto se ele estava com pressa e com a resposta negativa, peço uma caneta e um pedaço de papel. Ele vinha da Vila Olímpia para o Ipiranga e há quase 10 anos faz o percurso de bicicleta. “É muito mais tranquilo, não gasto nada, levo 40 minutos, devagarzinho, encontro gente no caminho, sempre tem uma conversa. Agora mesmo parei pra comer um doce”.
Passo o endereço do blog para os dois. Nos despedimos e eu saio pensando: coitados daqueles milhares de seres humanos lá embaixo, solitários, trancados dentro de suas máquinas sem poder sequer conversar com ninguém (a não ser pelo celular), sem surpresas no caminho, sem poder contemplar o belo e caótico fim de tarde da metrópole. Dirigir para trabalhar, trabalhar para dirigir. E se parar no caminho, tome buzina.
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