(Oscar Diáz, Gilberto Kassab e Eduardo Jorge)
Tarde de quinta-feira (18), auditório da Prefeitura. O colombiano Oscar Diáz (diretor para a América Latina do ITDP) fez uma bela palestra sobre transporte sustentável e as transformações implantadas em Bogotá durante a gestão do prefeito Enrique Peñalosa, do qual foi “braço esquerdo” (como ironizou o secretário paulistano do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge).
A palestra fez parte do projeto Aula São Paulo, da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura.
Algumas realizações e princípios da prefeitura de Bogotá:
– O estacionamento de veículos é um problema privado e deve ser resolvido no âmbito privado. Não cabe ao poder público construir garagens e estacionamentos. A prefeitura deu, no máximo, incentivos fiscais (por 10 anos) para que a iniciativa privada construísse estacionamentos nos locais críticos.
– Em cidades subdesenvolvidas, o poder público deve escolher: ou pavimenta ruas, ou constrói praças, ciclovias e parques. Bogotá optou pela segunda opção. Diáz mostrou fotos de belas praças, calçadas e ciclovias construídas ao lado de ruas de terra.
– Antes de pavimentar as ruas nos bairros pobres, a prefeitura construiu 340km de ciclovias e uma via para pedestres e ciclistas de 17km.
– Aos domingos, 120km de ruas da cidade são fechadas aos carros e abertas às pessoas.
– Diversas iniciativas foram criadas para “mandar mensagens” aos motoristas que os pedestres têm prioridade na cidade.
Frases interessantes:
– Por mais de 5 mil anos, as “cidades” foram feitas para pedestres. Somente nos últimos 80 anos, a humanidade voltou o planejamento de seu espaço público brutalmente para os automóveis.
– As calçadas são “parentes” dos parques e praças, não das ruas e avenidas. As calçadas, ao contrário das ruas, não são meros espaços de passagem, mas sim de encontro, de convivência.
– Ninguém volta de Paris elogiando as autoestradas francesas. Todos se lembram dos espaços por onde caminharam. O que torna as cidades memoráveis são os seus espaços para pedestres.
– Quando as pessoas preferem se encontrar em um shopping center e não no espaço público, é sinal de que a sociedade está doente.
– O problema do transporte não é técnico, é político.
Portaria Pró-Ciclista
Depois da palestra memorável de Diáz e de algumas perguntas, o prefeito Gilberto Kassab entrou no auditório para assinar uma “Portaria Pró-Ciclista”. A portaria, que deve ser publicada no Diário Oficial nos próximos dias, prevê a criação de um grupo de técnicos de vários órgãos públicos (CET, SP Trans, Secretaria do Verde, etc) para “planejar e ordenar o crescimento do transporte cicloviário na cidade”. O grupo deverá auxiliar a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que estava sozinha no desenvolvimento de políticas cicloviárias.
O prefeito citou ainda que existe uma idéia de criar, aos domingos, uma ligação livre de carros entre o Parque do Povo (av. Cidade Jardim) e o Parque do Ibirapuera. Ao contrário de Bogotá, a idéia paulistana é aproveitar apenas uma das pistas das avenidas e não fechá-las totalmente ao tráfego motorizado. A dimensão do projeto também é reduzida: ao contrário dos 120km de Bogotá, a ligação entre os dois parques não tem mais de 15km.
Infelizmente, o prefeito ainda tratou ciclistas como esportistas e causou espanto (ao menos em mim) ao dizer que desde o primeiro dia do governo José Serra, o transporte público tem sido prioridade. E os calçadões fechados? E a cosntrução de 0 (zero) corredores de ônibus? E a liberação de automóveis particulares nos mesmos corredores aos sábados, domingos e feriados? E o fim dos “domingos na Paulista” e na Sumaré? E o aumento da tarifa dos coletivos como primeira medida de governo? Hmmm, estranho….
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