Na semana que teve o dia mais quente de todos os invernos e, certamente, o maior número de internações e mortes por causa da poluição, acontece a conferência internacional “Ar limpo para a América Latina”.
Em poucas palavras, a conferência promovida pelo Banco Mundial discute a vinda de dinheiro do norte (“a mão que dá”) para que nós do sul (“a mão pedinte”) amenizemos o nosso “em desenvolvimento”.
Enquanto isso, apenas 16 dias sem chuva no inverno deixaram a capital com as piores condições atmosféricas do ano. Apenas 17% de umidade do ar e condições “inadequadas” segundo a medição de poluição da CETESB.
Segundo matéria da Folha (para assinantes), o ar seco em São Paulo é muito pior do que a tradicional estiagem de Brasília. “Tudo porque a poluição causada pela frota de mais de 5 milhões de carros agrava ainda mais os problemas de saúde causados pelo clima seco.”
Dores de cabeça, tosse, catarro, alergias, tontura, dificuldade para respirar e agravamento de doenças respiratórias; essas são as consequências perceptíveis. O quadro é mais grave em crianças e idosos. Segundo pesquisas do professor Paulo Saldiva, 10 a 12 pessoas morrem todos os dias na capital vítimas da poluição.
No interior do Estado, as queimadas para o plantio da cana de açúcar (aquela que gera o “limpo” álcool combustível) tornaram a vida dos habitantes ainda pior: a umidade do ar chegou a 12% em Ribeirão Preto (o recomendado é de 30%).
Mas a cidade parece não estar nem aí: as condições atmosféricas críticas continuam a ser atribuídas pela mídia a fenômenos climáticos. A Folha de São Paulo, por exemplo, chega a dizer categoricamente “O problema ocorre principalmente devido à estiagem”.
A seca no inverno é normal desde que Padre Anchieta chegou nestas terras. O que não é normal, e, portanto, causa o problema, é a poluição gerada pela queima de combustíveis. Anormal também é que apenas 30% da população possua automóveis e que as máquinas queimadoras de duas toneladas circulem nas ruas com apenas uma pessoa dentro. Mais anormal ainda é o silêncio escandaloso da sociedade, da mídia e do poder público.
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