Dez anos de rodízio – e cada dia pior

Fenômenos naturais no site da prefeitura:
tempo, temperatura, congestionamento
e placas-alvo do rodízio municipal

Há exatos dez anos, em 5 de agosto de 1996, foi criado o rodízio de veículos na capital. A idéia partiu da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, para combater a poluição.

Além da reduzir a poluição, a restrição estadual diminuiu o congestionamento na capital. Por causa do alívio no trânsito, que sempre rende dividendos eleitorais, a prefeitura criou seu próprio rodízio no ano seguinte.

Enquanto o rodízio estadual restringia a circulação de veículos durante todo o dia, o programa municipal, batizado de “Operação Horário de Pico”, acabou servindo apenas para distribuir o congestionamento, já que a proibição vigora apenas das 7h às 10h e das 16h às 20h.

Hoje as restrições de circulação são informadas em destaque no site da prefeitura, ao lado das condições do tempo. Afinal, um congestionamento é algo tão natural como uma tempestade, não é?

(do site do metrô)

Em 1996, São Paulo tinha 52,6 km de metrô. Ao final de 2006, a cidade terá 63,4 km. Ou seja, foi construído 1km de metrô por ano.

Por extrema coincidência, o esforço de expansão da rede foi concentrado nos anos eleitorais: em 20 de outubro de 2002 foi inaugurada a linha 5. Em 2006, apesar da expansão real ser de apenas 3,4km, a propaganda oficial diz que esta é “a maior expansão de todos os tempos” e promete mais de 30km “para o futuro”.

Enquanto isso, a cidade que tinha pouco mais de 3,5 milhões de automóveis particulares em 1996, teve um aumento de aproximadamente 2 milhões de veículos em 10 anos, ou seja, 200 mil novos veículos por ano. Se fossem colocados em linha reta, estes veículos ocupariam aproximadamente 6 mil quilômetros (mais do que os 4.320km que separam o Oiapoque do Chuí).

Em dez anos de rodízio, o paliativo ambiental virou política pública para gerenciar o caos. Quase nada foi feito para desestimular o uso do automóvel particular, a não ser aumentar a angústia de quem usa o carro para se locomover na cidade e é obrigado a enfrentar congestionamentos monstruosos.

Em dez anos de rodízio, as propagandas de automóveis foram sofisiticadas e disseminadas em todas as mídias, vendendo de forma cada vez mais fantasiosa a ilusão da liberdade individual em troca da negação do espaço público (degradado, poluído e “perigoso”).

Em dez anos de rodízio, a área consumida pelo automóvel em estacionamentos, garagens, oficinas mecânicas, postos de gasolina, concessionárias, ruas e avenidas espalhou ainda mais a cidade, dizimando a convivência e degradando o patrimônio urbanístico.

Em dez anos de rodízio, apenas uma gestão municipal (a de Marta Suplicy) “resgatou” espaço de circulação dos automóveis para destinar ao transporte público com a construção de corredores exclusivos (posteriormente prostituídos para beneficiar a locomoção individual).

Em dez anos de rodízio, o paulistano aumentou sua dependência pelo automóvel e quase nada foi feito pelo poder público para mudar este paradigma.

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