Há pouco tempo implantaram uma faixa segregada para motos. Como disse Guy Debord, a moto não é nada mais do que um subproduto do automóvel; ela não tem nada a ver com bicicletas ou pedestres. Em São Paulo isso é claro como o branco dos olhos.
Na década de 90 aconteceu a abertura do mercado e a substituição das “carroças” (termo cunhado por Fernando Collor, o senador) por modernas máquinas. O enxame de veículos contou com generosos subsídios à indústria automobilística (que continuam em vigor até hoje) e com a estabilização (?) da economia, que permitiu a difusão em massa da moderna escravidão, chamada de crediário.
Com o aumento exponencial no número de carros em circulação, as ruas começaram a parar. Para que a moderna economia não parasse também, pequenas e grandes empresas começaram a se utilizar de uma característica comum aos países subdesenvolvidos: a mão de obra barata, ou melhor, a vida humana que não vale nada.
No lugar dos saudosos office-boys que circulavam tranquilamente de ônibus ou a pé, surgiram os motoboys, sub-empregados insanos que correm que nem loucos para tirar alguns trocados para o “leite das crianças”.
A implantação generalizada do sistema de entregas por motocicletas gerou alívio econômico. Aos poucos, no entanto, o uso excessivo desta forma de transporte de mercadorias começou a gerar mais um problema urbano: o aumento da violência na disputa por espaço com os motoristas.
Espelhos quebrados, chutes nas portas e assaltos por duplas em motos começaram a incomodar a classe média “formadora de opinião”. Além disso, as mortes de anônimos motoboys começaram a engrossar significativamente a estatística de óbitos no trânsito.
Para resolver os espelhos quebrados, os gerentes do caos fizeram o que estão habituados a fazer: criaram um paliativo, segregando as motos em uma faixa esclusiva. Logo nos primeiros dias, alguns “acidentes” com pedestres e motos fizeram com que a CET fosse obrigada a tomar algumas medidas. Entre elas, a placa da foto acima.
“Pedestre, cuidado: motocicleta. Só atravesse no VERDE”, diz a placa. O detalhe kafkaniano é que as travessias de pedestres da Sumaré não possuem semáforo para pedestres! Aliás, encontrar semáforos de pedestres em São Paulo é tão difícil quanto encontrar um político que use diariamente transporte público ou não-motorizado.
Isso pra não falar que a lógica da CET ao tratar os pedestres subverte o código de trânsito e o bom senso. Diz a lei que cabe sempre ao condutor do veículo mais pesado zelar pela segurança do mais leve e que todos devem zelar pela segurança do pedestre. Não seria tão ou mais razoável uma faixa “motociclista, cuidado com o pedestre”. Mas estamos em São Paulo, cidade onde o carro é rei, a moto é a rainha e o pedestre…. o que é um pedestre mesmo?
A segregação dos diversos veículos não é solução para nada. Assim como no caso das ciclovias, é inviável criar faixas separadas para cada tipo de veículo em todas as ruas da cidade. As vias devem ser compartilhadas por todos. Mesmo assim, publicações facistas como a revista Veja preferem criticar a iniciativa pelo único ponto de vista que satisfaz boa parte dos “formadores de opinião”: os congestionamentos.
Nesta reportagem, a pseudo-revista chega a afirmar que a culpa dos congestionamentos na Sumaré é da motofaixa, e não da permissão de estacionamento em boa parte da avenida ou do excesso de veículos em circulação em toda a cidade. Para a Veja, a morte de um motoboy por dia é um preço justo para que 30% da popualção continue a entupir as ruas com suas máquinas de quatro rodas e pedir pizza pelo telefone.
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