Apocalipse Motorizado ganha prêmio no The Bobs


“Estamos vencendo” em carro da polícia italiana
durante o dia de ação global em Gênova, 2001
(trecho do filme “A Quarta Guerra Mundial“)

Saiu ontem (sábado 11) o resultado do concurso “The Bobs – The Best of Blogs”, promovido pela agência de notícias alemã Deutsche Welle. O :.apocalipse motorizado faturou o prêmio do juri de melhor blog em português. Vale dar uma olhada no site do concurso para conhecer os outros participantes.

Mais do que a alegria de chegar em primeiro lugar fica a certeza de que questionar a predominância cultural, social e urbana dos automóveis não é coisa de maluco, “ecochato”, hippie ou de quem deseja voltar ao tempo da pedra lascada.

Apesar do pseudônimo utilizado nos textos remeter aos quebradores de máquinas da revolução industrial, este blog não propõe o fim do carro nem de seus subprodutos. Trata-se apenas de resgatar uma atividade esquecida nas sociedades entorpecidas pelo “deus-consumo”: a crítica.

Criticar não é destruir; criticar é apontar caminhos ou, ao menos, se dizer insatisfeito com a rota escolhida ou imposta.

A idéia é simples: repensar o papel determinante do automóvel em nossas sociedades e estabelecer relações com aspectos culturais, políticos, ambientais e econômicos a partir da observação de cenas cotidianas. Dizia um grande professor da faculdade que a sensibilidade humana é alterada com o passar do tempo e deixamos de enxergar o que poderia ser óbvio e inaceitável alguns anos antes.

Observar a destruição do tecido social pelo isolamento das pessoas em bolhas metálicas, as relações de poder e status que geram agressividade no trânsito, a usurpação de espaço público para fins privados de locomoção ou estacionamento, o consumo predatório e descartável, as guerras por combustível e a degradação do ambiente urbano. Isso sem falar na poluição atmosférica, nas mortes em colisões ou atropelamentos chamadas de “acidentes”, no barulho dos motores, alarmes e buzinas, no tédio dos congestionamentos…


(arte: Mona Caron)

Além das “reflexões para sobreviver na selva das máquinas de vidros escuros”, o :.apocalipse motorizado também acredita na ação direta dos cidadãos como remédio para o colapso das democracias representativas.

Durante a década de 90 o Terceiro Mundo comprou a ilusão de que “público” é a mesma coisa que “ruim”. Despejou-se todos os males humanos na “ineficiência do Estado”, mas esqueceu-se que “público” não é a mesma coisa que “de alguns burocratas ou oligarcas”. “Público” é aquilo que pertence a todos, ou seja, o contrário de “privado (aquilo que só pertence a alguns)”.

Isolar-se dentro de um carro e criticar “o transporte público ruim”, as calçadas esburacadas ou a falta de condições para os ciclistas é o mesmo que reduzir a atuação política ao ato de apertar algumas teclas a cada 2 anos, para depois dizer que “são todos corruptos”.

Por essas e outras razões, fico muito feliz que em quase dois anos de vida o :.apocalipse motorizado comece a fazer parte de uma rede considerável de pessoas e instituições dispostas a dar passos firmes na construção de um outro mundo possível.

Saudações ao juri do concurso, aos novos visitantes, aos autores dos outros blogs e, em especial, a todos os parceiros desta longa e divertida caminhada. Seguimos abrindo trincheiras humanas e colaborativas no mundo das máquinas competitivas. Estamos vencendo!

26 Comments