Um pedestre que se recuperava de um atropelamento?
Uma vítima leve que torceu ou quebrou o pé em uma calçada esburacada?
Um cadeirante que “se arriscou” na rua pois a calçada era estreita?
Um idoso que ousou dar uma volta no bairro?
Um ciclista derrubado por um motorista apressado?
Alguém gravemente ferido em uma colisão automobilística porque o motorista do carro da frente usava engate, aquela peça usada pela maioria dos motoristas como arma contra arranhões na pintura do pára-choque que aumenta exponencialmente a nocividade das colisões traseiras?
O motorista do carro cinza talvez não tenha percebido que aquele espaço era uma calçada.
Ao ver a pintura “espertamente” verde do piso, que igualou o espaço público para pedestres ao espaço do terreno particular destinado ao estacionamento de carros, o motorista deve ter pensado, no máximo, que “ainda tinha espaço” para o pedestre passar.
Talvez os vidros escuros de seu carro em grau acima do permitido tenham dificultado ainda mais a distinção elementar entre público e privado. Ou talvez ele já tenha se esquecido que existem calçadas, idosos, cadeirantes, ciclistas, pedestres, crianças, bairros e praças, passando a acreditar que a cidade é feita apenas de avenidas, faróis, garagens, manobristas e do carro que vai à sua frente.
A pequena Silvia foi morta quando o motorista da BMW em local proibido abriu a porta do carro, acertando a roda traseira da bicicleta e jogando mãe e filha para o meio da rua. Uma van atingiu a bicicleta e matou a criança na hora.
Em outro trecho, Hartman demonstra a fúria automobilista quando o “troco” é dado na mesma moeda. Ao caminhar ou ficar parado no meio de ruas, desperta a ira dos motoristas, que buzinam e chegam a agredi-lo pois estava “atrapalhando a passagem”.
Vale lembrar que o filme se passa na Alemanha, em 1994. Ou seja, uma agressão física no filme deve ser equivalente a ser morto com um tiro na São Paulo deste início de século.
O vídeo Autoschreck, de Roland Schraut, conta a história da batalha de Hartman por ruas mais humanas. Disponível apenas em inglês.
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