Sobre pedestres, bicicletas e uso do solo

Esta é uma típica rua de Munique: calçadas com mais de 10 metros de largura e espaço compartilhado entre pedestres e ciclistas.Boa parte das ciclovias de Munique fica em cima da calçada. Talvez sejam duas as razoes:

1) eles têm calçadas (e nao trilhas estreitas e esburacadas para quem não conseguiu comprar um carro);

2) é mais seguro dividir o espaço entre pedestres e ciclistas do que juntar bicicletas e máquinas motorizadas.

Em São Paulo as calçadas têm, quando muito, 2 metros de largura. São demasiado estreitas até para a quantidade de pedestres que nelas circulam.

Talvez por isso a meia dúzia de quilômetros de ciclovias existentes na capital paulista tenha sido construída nos canteiros centrais das avenidas (Sumaré e Faria Lima, por exemplo). Este modelo deve ser repetido em breve na Radial Leste: 12km de ciclovias no canteiro central da avenida, interligando as estações Corinthians-Itaquera e Tatuapé do Metrô.

O grande problema das ciclovias em canteiros centrais é o acesso a elas.

Se, para entrar e sair da ciclovia o cidadão tem que utilizar faixas de pedestre e enfrentar semáforos que ficam quatro minutos abertos para os carros e dez segundos para os transeuntes, a ciclovia não será utilizada.

Além disso, a distância excessiva entre os acessos é outro complicador que geralmente destrói boas idéias e intenções.

Esta é uma vizinhança típica de Munique. Prédios de quatro ou cinco andares, sem porteiros, faxineiros, cercas eletrificadas, cães de guarda, manobristas e segurancas de terno e gravata embaixo de guarda-sóis na calçada.

Além dos carros, a cidade de São Paulo teve o seu espaco devorado a partir da década de 70 pelos condomínios-disneylandia da classe média amedrontada. Piscinas, quadras poliesportivas, jardins, “lounges”, salas de cinema, bosques, guaritas e até shopping centers instalados dentro do edifícios residenciais consomem muito espaco urbano, espalham a cidade.

“Condomínio-clube”, dizem os especuladores, este é o nome do conceito que move a classe média e a pequena elite paulistana neste novo século. “Faca tudo sem sair de casa”. Afinal, o trânsito de é infernal, não é mesmo?

À distância (de tempo e espaco), São Paulo realmente parece uma cidade crônicamente inviável. Ou resgatamos todas as quadras e demais áreas privativas dos condomínios e as devolvemos ao uso público, ou jamais teremos espaco para construir ciclovias, calcadas, parques e praças…

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