Voltei ontem (domingo) da minha jornada européia que terminou com a participação na conferência Toward Carfree Cities (Em direção às cidades sem carro), promovida pela World Carfree Network em Istambul (Turquia).O blogue ficou meio parado nos últimos dias por causa da conferência, onde estiveram presentes ativistas, técnicos e planejadores urbanos de 13 países.
Se os primeiros dias de viagem para mim deveriam ter 48 horas de duração, na Turquia o intercâmbio de informações, experiências e realidades com mais de 70 pessoas fez minha cabeça girar a mil por hora. Cada dia foi vivido como se tivesse 72 horas.
A imagem acima é do meu penúltimo veículo em Istambul, um táxi que me levou até o aeroporto.
Assim como São Paulo, a cidade turca vive um difícil realidade de abuso automobilístico e degradação de seus espaços públicos. Muitos carros estacionados em calçadas e praças, calçadões fechados às pessoas, buzinas por todos os lados e muito desrespeito com pedestres e ciclistas. São Paulo é um paraíso perto de Istambul.
Mesmo assim, as iniciativas em favor da mobilidade sustentável começam a tomar vulto em Istambul. Durante a conferência, os participantes e um subprefeito da cidade se juntaram para pintar a sinalização de uma ciclovia.Tá certo, a pista para bicicletas era curta, dedicada ao lazer e com pouca função de transporte. Mas foi ótimo ver o prefeito com as mãos na massa, pintando bicicletinhas no chão.
Três horas e meia de um vôo tenso, com uma turbulência feroz que fez crianças chorarem e a senhora do meu lado vomitar, cheguei à Frankfurt, na Alemanha, para pegar o segundo avião em direção a São Paulo.
No aeroporto, minhas últimas lágrimas em terras estrangeiras caíram ao ver estas bicicletas dentro do aeroporto. Elas são usadas pelos funcionários, que precisam de agilidade para se deslocar em um dos maiores aeroportos do mundo.
De volta a São Paulo, abro minha janela e uma miragem parece surgir na avenida Paulista: biciceltas pintadas no chão, como na Turquia, como na Alemanha ou como nos outros países por onde passei.Soube depois que as ciclofaixas paulistanas foram pintadas pelos participantes da Bicicletada dos Executivos, a edição de agosto da massa crítica paulistana. Dividir o espaço é a tarefa contra a privatização. Critividade é o antídoto contra a burocracia.
Como não terminei o relato da viagem, o blogue seguirá trazendo nos próximos dias postagens da jornada em direção às cidades sem carro, alternadas com notícias e informações locais.
Resolvi escrever esse texto para que os meus caros leitores não fiquem achando que estou onde não estou.
O sonho acabou. As férias e o dinheiro também. Mas depois de visitar Munique, Salzburgo, Viena, Praga, Budapeste e Istambul, vi que a realidade paulistana, ainda que dura e agressiva, não é a pior do mundo.
E mais: temos total possibilidade de reverter o quadro avassalador de degradação dos espaços humanos também nestas paragens subdesenvolvidas. Basta um pouco de vontade política, uma pitada de vergonha na cara, outra pitada de tempo e alguma organização das pessoas interessadas em mudar a situação.
Fácil não é, mas é absolutamente possível. Sem importar soluções prontas, sem dar espaço para interesses privatistas e mesquinhos e utilizando muita criatividade, conseguiremos construir uma cidade melhor. Se duvidam, aguardem as próximas postagens sobre Praga e Budapeste.
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