Pois é, é isso mesmo: uma das melhores cidades das Américas para se locomover de bicicleta tem apenas alguns poucos quilômetros de ciclovias.
Ciclovias são espaços segregados fisicamente para o trânsito de ciclistas. No Brasil, o total desconhecimento de qualquer tipo de planejamento urbano que não o voltado para o automóvel faz com que o trânsito seguro de bicicletas seja diretamente associado à construção de vias separadas dos carros.
Portland não tem ciclovias. Mas tem uma extensa malha cicloviária cobrindo quase toda a cidade e uma série de políticas urbanas que tornam o trânsito de bicicletas bastante seguro.
As ciclovias existem apenas nos locais mais perigosos, como as pontes que atravessam o rio Willamette. Aliás, todas as pontes possuem espaços seguros para a travessia de pedestres e ciclistas.
Nas ruas mais movimentadas, a estrutura cicloviária consiste apenas em faixas pintadas no chão. Não é preciso dizer que elas são respeitadas pelos motorizados.
Nos bairros residenciais, apenas uma pequena bicicleta pintada no chão indica as rotas para ciclistas. Placas indicando os caminhos onde o trânsito é mais tranqüilo também estão espalhadas pela cidade.
As ciclofaixas e as rotas para ciclistas são possíveis também porque a cidade vem proibindo gradativamente o estacionamento de veículos em vias públicos. É raro encontrar uma rua movimentada onde o estacionamento de veículos seja livre e gratuito como em São Paulo.
Mesmo assim, estamos na “América”, país que adora SUVs e outros monstros que consomem muito combustível e espaço (falaremos deste assunto em breve). Os estacionamentos privados estão por todo lado, tornando a cidade espalhada.
Durante a conferência Towards Carfree Cities, o assunto das vias segregadas ganhou destaque nas falas de Andy Clarke (diretor da Liga Americana de Ciclistas) e Gil Peñalosa (consultor cicloviario, irmão de Henirque Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá).
Clarke afirmou que a League of American Bicyclists considera Portland a melhor cidade para o uso de bicicletas dos EUA. Penñalosa, por sua vez, disse que a cidade não deveria mais “competir” com as cidades estadunidenses, mas sim com as capitais mundiais da bicicleta, como Copenhagem ou Amsterdã.
Peñalosa destacou a importância das vias segregadas: “A idéia é que as cidades estejam preparadas para que crianças e idosos possam pedalar sem riscos e isso só é possível com algum tipo de segregação em alguns espaços. Carros são perigosos e o seu filho de 8 anos deve ter o direito de ir para a escola de bicicleta sem correr o risco de ser atropelado”.
Um passo depois do outro. Talvez Portland ainda seja uma cidade excludente para ciclistas de oito anos de idade. Mas certamente conseguiu criar um sistema cicloviário de dar inveja a boa parte do mundo, gastando pouco dinheiro com a pintura das suas ciclofaixas, ao contrário das cidades que continuam insistindo apenas na construção das caras vias segregadas em canteiros centrais de avenidas sem se preocupar com educação ou punição daqueles que colocam em risco a vida dos outros nas ruas.
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