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O texto abaixo é uma tradução livre das “20 Theses against green capitalism”, de Tadzio Mueller e Alexis Passadakis, encontrado no Nowtopian de Chris Carlsson. Alexis é membro da ATTAC Alemanha e Tadzio faz parte do coletivo editorial Turbulence.
Não às falsas soluções! Justiça climática agora!
1. A atual crise econômica mundial marca o fim da fase neoliberal do capitalismo. “Negócios como sempre” (financeirização, desregulação de mercados, privatização…) não são mais uma opção: novos espaços de acumulação e tipos diferentes de regulação política deverão ser criados pelos governos e corporações para manter o capitalismo de pé.
2. Além das crises econômica, política e climática, existe uma nova crise atormentando o mundo: a “biocrise”, que é o resultado da mistura suicida entre o ecossistema que garante a vida humana e a necessidade constante de expansão do capital.
3. A “biocrise” representa um perigo imenso à nossa sobrevivência coletiva. Mas, como todas as crises, também apresenta aos movimentos sociais uma oportunidade histórica: a de expor a jugular do capitalismo, ou seja, a sua incessante e destrutiva necessidade de se expandir.
4. Uma das propostas que emergiram das elites globais, a única que se relaciona com todas estas crises, é a do “New Deal” verde. Esta já não é mais a fase do capitalismo verde 1.0, da agricultura orgânica e do “faça você mesmo”, mas sim uma proposta de que esta fase “verde” do capitalismo deve continuar gerando lucros através da modernização de certas áreas de produção (carros, energia, etc).
5. O capitalismo verde 2.0 não é capaz de resolver a “biocrise” (mudanças climáticas e outros problemas ecológicos como a redução da biodiversidade), mas consegue tirar algum lucro dela. Esta postura não altera em nada a rota de colisão entre as economias de mercado e a biosfera.
6. Não estamos mais em 1930. Naquela época, através da pressão de movimentos sociais, o velho “New Deal” redistribuiu o poder e a riqueza. O “Green Deal” discutido por Obama, pelos partidos verdes ao redor do mundo e pelas corporações multinacionais está mais relacionado ao “bem-estar” das corporações do que das pessoas.
7. O “Capitalismo Verde” não vai colocar em discussão o poder daqueles que mais emitem gases de mudanças climáticas (empresas de energia, companhias aéreas, montadoras de automóveis, agricultura industrial), mas simplesmente vai despejar mais dinheiro nestas empresas, para ajudá-las a manter seus lucros mediante pequenas mudanças ecológicas, que serão muito pequenas e tomadas muito tarde.
8. Em escala planetária, os trabalhadores perderão seu poder de exigir salários decentes. Em um mundo configurado pelo “capitalismo verde”, os salários deverão estagnar ou decair para cobrir os custos da “modernização ecológica”.
9. O Estado do “capitalismo verde” será autoritário. Justificado pela ameaça de crise ecológica, o Estado ira “gerenciar” as agitações sociais que necessariamente irão emergir do aumento do custo de vida (comida, energia, etc) e do decréscimo dos salários.
10. No “capitalismo verde”, os pobres serão excluídos do consumo, empurrados para as margens, enquanto os mais ricos terão que “ajustar” seu comportamento destrutitvo indo às compras e salvando o planeta ao mesmo tempo.
11. Um estado autoritário, o aumento das desiguldades, o bem-estar das corporações: do ponto de vista da emancipação social e ecológica, o “capitalismo verde” será um desastre do qual não conseguiremos nos recuperar jamais. Hoje nós ainda temos a chance de superar paradigma suicida do crescimento constante. Amanhã, quando nos acostumarmos ao capitalismo verde, isso não será possível.
12. No “capitalismo verde” existe um perigo estabelecido: os grandes grupos ambientais passarão a desempenhar o mesmo papel que os sindicados desempenharam na era Fordista: agir como válvulas de escape para assegurar que as demandas de mudança social e que nossa raiva ficarão contidas dentro dos limites estabelecidos pelo capital e pelos governos.
13. Albert Einstein definiu “insanidade” como “fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar resultados diferentes”. Na década passada, apesar de Kyoto, não apenas cresceu a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, como também foi aumentada a taxa de crescimento destas emissões. Queremos apenas mais do mesmo? Não seria isso uma insanidade?
14. Os acordos climáticos internacionais promovem as falsas soluções, que geralmente visam garantir apenas a segurança energética e não atacar as mudanças climáticas. Longe de resolver crises, o comércio de carbono e as medidas a ele associadas servem apenas como escudo político para que as emissões de gases de efeito estufa continuem a ser feitas impunemente.
15. Para muitas comunidades do Sul do planeta, estas falsas soluções (biocombustíveis, “desertos verdes” e comércio de carbono) muitas vezes configuram uma ameaça maior do que as próprias mudanças climáticas.
16. Soluções reais para a crise climática não vêm de governos e corporações. Elas vêm de baixo, da sociedade global e dos movimentos que lutam por justiça climática.
17. Estas soluções incluem: não aos acordos de livre comércio, não às privatizações, não à flexibilização dos mecanismos de controle. Sim à soberania alimentar, sim ao decrescimento, sim à democracia radical e sim à deixar os recursos naturais onde eles se encontram.
18. Configurados como um movimento emergente por justiça global, devemos lutar contra dois inimigos: as mudanças climáticas e o capitalismo “fossílico” responsável por elas e, por outro lado, também será preciso lutar contra o emergente “capitalismo verde”, que não vai interromper o processo destrutivo, mas sim limitar a nossa capacidade de atuar para a impedir a destruição.
19. É claro que mudanças climáticas e acordos de livre comércio não são a mesma coisa. Mas o protocolo de Copenhagen será uma instância regulatória, da mesma forma que a OMC foi central para o capitalismo neoliberal. Então, como relacionar as duas coisas? Para o grupo dinamarquês KlimaX argues: um bom acordo é melhor do que nenhum acordo – mas nenhum acordo é melhor do que um mal acordo.
20. A chance dos governos sairem de Copenhagem com um “bom acordo” é praticamente zero. Nosso objetivo deve ser exigir soluções reais. Se isso não for possível, devemos esquecer Kyoto e impedir Copenhagem (não importa qual seja a tática).
Tadzio Mueller e Alexis Passadakis
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