fotos: felippe cesar / ciclourbano (exceto onde citado o autor)
No último sábado (14), diversas cidades do hemisfério sul do planeta participaram de mais u World Naked Bike Ride. Em São Paulo, a segunda Pedalada Pelada juntou algumas centenas de pessoas, que desfilaram pelas ruas de São Paulo “tão nuas quanto lhes foi permitido”.
Na avenida Paulista, a presença ostensiva da polícia constrangeu boa parte das pessoas a não tirar a roupa. Em uma dispersão auto-organizada, a massa seguiu fragmentada e por caminhos variados até o Monumento às Bandeiras. Só então pedalou de maneira fluida e agradável pelas ruas da cidade.
foto: carlos alkmin
As primeiras notícias que chegavam da Praça do Ciclista na manhã daquele sábado eram desanimadoras. Antes do meio dia, a polícia já perfilava dezenas de veículos e homens nas calçadas de um lado da praça. Alguns oficiais circulavam avisando os presentes que toda nudez seria castigada.
foto: panoptico
Do outro lado da rua, eram os veículos da mídia que ocupavam lugar proibido na via pública (em frente a um estacionamento, diga-se de passagem).
Na praça, o constrangedor circo midiático do ano passado começava a se formar com a profusão de humor sensacionalista, perguntas óbvias e ávidas lentes dispostas a sexualizar uma página de jornal ou mais alguns segundos da programação televisiva.
foto: mario amaya
Nos primeiros quarteirões, a massa andou lenta e confusa. Ficou confinada em duas pistas por motos, bicicletas e carros da polícia (incluindo uma base comunitária móvel) e cheia de reporteres, fotógrafos, cinegrafistas e urubus a pé.
O clima não era alegre e fluido como nas outras tantas pedaladas em grupo que acontecem na cidade. Além do anda e para causado pelo afunilamento da massa, a presença numerosa de policiais armados e dispostos a avançar sobre qualquer pelad@ não deixava o clima agradável.
De repente, um plano B começava a surgir em boatos que pareciam fazer muito sentido: no lugar da esperada volta na Paulista, a massa iria dispersar e se reencontrar em outro lugar para uma segunda concentração, sem cameras nem cassetetes.
Livres, as bicicletas escorregaram em pequenos grupos até o Monumento às Bandeiras, em frente ao Ibirapuera. Depois do novo encontro, corpos pintados, outros vestidos e alguns pelados partiram para a segunda e mais interessante parte da tarde, que durou algumas horas e pouco mais de 15km.
foto: vá de bike
foto: flecha / cmi
A metáfora da nudez do ciclista urbano, frágil e invisível quando vestido e foco das atenções quando pelado, não pode ser encenada na avenida mais importante da cidade. Uma boa reflexão sobre os valores e espaços em disputa por causa da Pedalada Pelada pode ser encontrada em dois artigos: este do site Nus pela Terra e esta matéria no Blog das Ruas, além de outros relatos e textos publicados fora da mídia corporativa.
A fuga da Paulista certamente levanta discussões sobre outros tabus e disputas importantes, mas a escolha do incosciente coletivo pela escapada talvez tenha garantido a visibilidade para os temas evocados, além de permitir que outros espaços da cidade fossem transformados pela passagem da colorida massa em uma bela tarde de sábado.
Com isso, mesmo sem a nudez em massa, as “reivindicações” dos participantes ganharam uma ou duas boas matérias na chamada “grande mídia”, além de uma dezena de imagens e notas de “infotenimento”. Milhares de pessoas nas ruas tomaram contato direto com aquela informação inusitada, demonstrando em 99% dos casos receptividade e apoio.
Além disso, a quantidade e a qualidade dos relatos, fotos, vídeos e comentários nos blogs, na mídia alternativa e nas comunidades virtuais segue crescendo, refletindo o desejo cada vez maior por outros horizontes, outras notícias e outras formas de vida para as comunidades reais.
É sábido que a ousadia não faz parte do pensamento dominante e que as reações às mudanças geralmente são rápidas e ferozes nestas terras. A presença de centenas pessoas pedalando livres e alegres naquela tarde de sábado acelera e potencializa transformações inevitáveis, alterando perspectivas, estimulando consciências e dando forças e voz para a construção de outros paradigmas.
Se a Pedalada Pelada não quebrou tabus, rompeu cercas, encarou exércitos ou provocou combustão instantânea no hype da notícia, certamente contribuiu com mais um passo para a visibilidade de assuntos como mobilidade urbana, mídia, transporte, distribuição e uso do solo, consumismo, guerra, sustentabilidade, trânsito, violência, meio ambiente, nudez, propaganda, liberdade de expressão e outros tantos.
E que venha a terceira edição!
foto: mario amaya
foto: macacoveio
fotos: felippe cesar / ciclourbano (exceto onde citado o autor)
foto: flecha / cmi
foto: flecha / cmi
foto: flecha / cmi
8 Comments