São Paulo, como outras cidades do país, possui um órgão operacional responsável pela mobilidade urbana, a Companhia de Engenharia de Tráfego, um dos braços da Secretaria Municipal de Transportes (que, por sua vez, responde ao Prefeito).
Palavras bonitas descrevem a missão deste órgão: “Prover mobilidade com segurança no trânsito, contribuindo para a cidadania e qualidade de vida”.
Em teoria, a CET é o órgão responsável por garantir a segurança nos deslocamentos dos cidadãos paulistanos, não importando se eles estão sozinhos em uma lata motorizada, dividindo espaço nos coletivos, caminhando por calçadas ou faixas de pedestres ou pedalando uma bicicleta.
Na prática, a CET segue o pensamento de seu presidente Alexandre de Moraes (servidor público que acumula outros três cargos na administração municipal, contrariando a Constituição, o bom senso e o respeito aos demais profissionais capacitados para ocupar os postos). Alexandre acredita que a vida dos paulistanos é menos importante que a inútil tentativa de garantir fluidez ao tráfego de motores.
Alexandre não está sozinho: conta com apoio de uma história urbana baseada na locomoção individual motorizada, de grande parte da mídia corporativa e do poderoso lobby automobilístico.
foto: ciclobr
No começo de abril, a CET mostrou mais uma vez que continua ignorando as palavras “segurança” e “cidadania”, seguindo apenas vã (e lucrativa) obsessão pela garantia do fluxo de motores.
Há quase duas semanas o órgão decidiu transformar 4km de acostamento da Marginal Pinheiros em mais uma faixa de rolamento para os motorizados. Com isso, colocou em risco a vida de ciclistas e pedestres que utilizavam o acostamento todos os dias, como mostram as duas fotos ao redor deste parágrafo.
foto: ciclobr
Ok, o acostamento de uma via expressa não é o melhor local para o fluxo de pessoas e bicicletas (ainda que esse direito seja garantido pelo Código de Trânsito em vias sem calçadas ou ciclovias). Certamente a melhor solução seria a construção de calçadas e de pistas dedicadas ao fluxo de ciclistas.
E qual foi a solução apresentada pela CET para as pessoas que não queimam combustível poderem circular na região? Obviamente, nenhuma. Para os administradores da mobilidade urbana em São Paulo, pedestres e ciclistas são cidadãos de quinta categoria e não merecem sequer satisfações quando têm o seu direito de ir e vir tolhido.
foto: ciclobr
Cansados das arbitrariedades e da cegueira em relação ao conceito de mobilidade urbana, um grupo de ciclistas resolveu denunciar o absurdo, resgatar o direito de ir e vir tolhido pelos carrocratas e reivindicar mais atenção para os deslocamentos da maior parte da população (que não anda de carro).
Na última quinta-feira (16), a CETB entrou em ação. Munidos de rolos de pintura, panfletos e argumentos na ponta da língua, a Companhia de Engenharia do Tráfego de Bicicletas começou a repintar o acostamento perdido.
A ação terminou com uma pessoa detida, ameaças a jornalistas, NENHUMA palavra da administração municipal sobre o caso e mais uma patética ameaça de multar os responsáveis pela ação.
Na sexta-feira, os ciclistas e pedestres puderam novamente andar com segurança pelo local. Mas a truculência motorizada mostrou que não brinca em serviço: o acostamento repintado pelos ciclistas foi apagado, colocando novamente em risco a vida de centenas de pessoas que passam pela região.
clipping de notícias, fotos e vídeos da ação
abuso de poder durante manifestação cicloativista – relato, fotos e vídeo – Renata Falzoni
dia seguinte com acostamento repintado – vídeo
Adivinha quem vai pagar pelo trânsito da Ponte Estaiada – Vá de Bike
Ciclistas repintam acostamento retirado pela CET – Vá de Bike
CET quer multar ciclistas outra vez – Vá de Bike
Comprovado: a fluidez motorizada é mais importante que a segurança da população – CicloBR
CET, terrível contra os ciclistas – CONTRA OS CICLISTAS!
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