O relato é do leitor Tiago Nepomuceno, enviado na semana passada:
“Neste último sábado tive a infelicidade de acompanhar de perto um acidente grave envolvendo um ciclista. Por volta das 14h30 estávamos, eu e minha esposa, seguindo pela Av. Presidente Tancredo Neves no sentido centro quando percebemos um ciclista jogado no meio-fio da pista da direita, já cercado de pessoas.
O acidente tinha acabado de acontecer. Segundo testemunhas um caminhão grande derrubou o ciclista logo depois de ultrapassá-lo. O ciclista (seu nome é Edílson) capotou e terminou batendo a cabeça (no chão ou no meio-fio). O mais grave: logo atrás de Edílson estava seu filho Matheus de seis anos, que seguia o pai em sua bicicletinha.
Ambos estavam sem capacete e rumavam para a favela de Heliópolis, distante pouco mais de 1,5 km do local. Assim que chegamos Edílson estava completamente zonzo. Não conseguia articular frase alguma, gemia, não conseguia se movimentar direito. Estava deitado e aos poucos começou a ficar agitado, tentando se levantar. A parte de trás de sua cabeça sangrava muito.
Sentado no meio fio, chorando e completamente assustado de ver o pai naquele estado estava o pequeno Matheus. Uma enfermeira que passava no local, juntamente com a nossa ajuda, tentava convencer Edílson a não se movimentar para evitar danos maiores, mas ele estava tão atordoado que sequer reconhecia o filho.
Tentamos conseguir a senha de seu celular para entrar em contato com a mãe do menino, mas Edílson não se lembrava. Vomitou (o que foi um péssimo sinal) e logo depois foi socorrido pelo resgate.
As duas bicicletas foram guardadas por um morador local, enquanto uma senhora – também da região – acompanhou ambos até o Hospital do Ipiranga. Um motociclista que viu o acidente e parou para socorrer Edílson saiu logo em seguida atrás do caminhão, mas infelizmente não o localizou.
Na condição de ciclista, acidentes como esse me lembram o quão vulnerável estamos nas ruas de São Paulo e principalmente o quão importante é toda e qualquer forma de resistência à hegemonia dos motorizados.
Era um feriadão de sol e céu azul, um dia perfeito para compartilhar a cidade de bicicleta. Pena que o caminhoneiro criminoso não pensava assim…
Um abraço para todos os amigos de pedal.
Tiago Costa Nepomuceno
PS: Diante do absurdo que aconteceu recentemente com o André Pasqualini, sugiro que informemos o caso para a CET a fim de que eles possam localizar e cobrar do Sr. Edílson a conta pelos vinte minutos de transtornos causados naquela avenida. “
PS do autor do blog 1: de acordo com a legislação brasileira, o uso de capacete não é obrigatório para ciclistas e, por uma questão de lógica simples, a vítima não pode ser culpabilizada pela agressão sofrida.
PS do autor do blog 2: recomendamos que a administração municipal envie o mais rápido possível o boleto bancário para a família destes dois outros ciclistas vítimas dos motores na semana passada. Informamos ainda que o Secretário Alexandre de Moraes não estará sozinho ao cobrar das vítimas os custos do trânsito. Como ele, boa parte da mídia corporativa também considera o congestionamento mais importante que a vida. Afinal, 80% do texto sobre os dois “acidentes” trata da lentidão motorizada, sem fazer qualquer análise ou investigação a respeito das causas nem tampouco ampliar a discussão sobre as condições de mobilidade por bicicleta.
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