foto: cc john mcnab
Segundo as estimativas mais otimistas, a cidade de São Paulo deve virar um inferno nos próximos meses: começou hoje a segunda fase das obras da Nova Marginal do Tietê. Depois de substituir árvores e áreas permeáveis por asfalto para seis novas pistas, a Prefeituragovernodoestado começou a abrir espaço embaixo das pontes para o futuro congestionamento passar.
É hora de colocar o bode na sala e transformar a cidade em um imenso mar de carros no delicioso período de festas de final de ano. No ano que vem, é só tirar o bode, fazer muita propaganda para estimular as memórias curtas e bater no peito estufado dizendo “nós resolvemos o problema do trânsito em São Paulo”.
As interdições serão feitas em cinco pontes ao mesmo tempo, seguindo a cadência eleitoral. A primeira parte da Nova Marginal estará pronta em Março, um mês antes dos governantes de hoje terem que se licenciar para serem os candidatos de amanhã. Os novos viadutos (incluindo mais uma ponte estaiada) ficam prontos em outubro, mês das eleições.
As estimativas divulgadas pelos órgãos de trânsito indicam que, enquanto a obra nas pontes estiver acontecendo, o trânsito na Marginal Tietê será 50% mais lento que o atual. Nas pontes que atravessam o rio e nas vias adjacentes, passageiros de ônibus, pedestres, ciclistas e motoristas serão espremidos em todos os centímetros disponíveis de rua.
Apesar da reforma estrutural das pontes, nenhuma ciclovia está prevista para deixar a obra de acordo com a lei. Nem para as pontes, nem para acompanhar as seis novas pistas de fluxo motorizado.
É impossível imaginar que obras para melhorar o transporte coletivo ou estimular o uso de bicicletas ou a caminhada contassem com tanta complacência se provocassem metade do transtorno que essa vai provocar. Imagine se a construção de uma linha de bonde reduzisse em 50% a velocidade do trânsito motorizado durante quatro meses em uma das principais vias da cidade? Quantas matérias enraivecidas, opiniões de especialistas e motoristas indignados não apareceriam no vídeo para criticar o “absurdo”?
Durante a inauguração do Estilingão (vulgo Ponte Estaiada), um cartaz dizia “construisse uma pirâmide”, em referência à monumental(inutil)idade da obra. Dois anos depois, eis a pirâmide de José Kassab.
clipping de notćias sobre a Nova Marginal
textos, fotos e vídeos publicados no apocalipse motorizado sobre o assunto
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