Poucas horas ou mesmo alguns dias em uma cidade não é tempo suficiente para descobrir quase nada sobre a mesma.
Assim como a irmã paulistana, a massa crítica de Buenos Aires parece reunir o mesmo tipo invisível, “estranho”, mas em número crescente nas ruas.
Olhar para as estruturas oficiais, para as placas de obras ou promessas de campanha, ver duas ou três notícias de jornal ou assistir um par de horas de tevê nos apresentam apenas apenas uma primeira camada da realidade local, que geralmente não condiz com as múltiplas realidades de qualquer cidade ou povo.
“Buenos Aires segue de costas para as bicicletas” significa apenas que o status quo local ainda não dá muita bola nem espaço para as necessidades e vozes de quem busca alternativas.
Exceto pela ausência do hype, que estampa bicicletas em santinhos de candidatos, minutos editados de televisão ou anúncios de qualquercoisa em qualquercanto, o ciclismo urbano de Buenos Aires é bem parecido com o de São Paulo. São poucos e invisíveis, porém bravos, criativos e festivos os ciclistas da massa crítica porteña. E se a invisibilidade soa maior no vizinho, talvez seja apenas porque a cidade ainda não viva o colapso sufocante, porém lucrativo, do enxame físico e mental de automóveis.
O vídeo tem cheiro daqueles momentos divertidos da História, aquelas brechas de oportunidades e caminhos onde fagulhas anônimas e pulsantes inspiram sonhos e transformações que o status quo geralmente não será capaz de atender, sem antes fagocitar a novidade e regogita-la embalada para consumo. Etiquetado e rotulado, o Novo geralmente não vai muito além do mesmo, podendo até se constituir em nova tirania, esquizofrenia ou fonte de exploração.
Na disputa pela alteração do status quo, trabalho, sabedoria, criatividade, tolerância e acaso podem jogar a favor. Bons ares, boa sorte.
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