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Na próxima quarta-feira (03/11), a Pedal 2 – oficina de bicicleta e cicloturismo realiza mais um “Cinema de Bicicleta”, com exibição do vídeo Sociedade do Automóvel, conversa, caipirinhas, comidas, música ao vivo e reflexões.
A oficina fica na Rua Correa Dutra, 16-b, no bairro do Catete (Rio de Janeiro).
Confira também o video de divulgação:
É muito interessante ver que o Sociedade do Automóvel, finalizado em 2005, ainda faz sentido e provoca reflexões e debates nos mais diversos cantos do Brasil (e em alguns cantos do mundo).
A obra foi meu trabalho de conclusão do curso na faculdade de jornalismo, realizada junto com a amiga Branca Nunes durante um processo de redescoberta da cidade e de libertação da carrodependência. Na época, éramos motoristas descontentes com o “trânsito”, que descobriram a possibilidade de utilizar outras formas de transporte na cidade.
Primeiro descobri que era possível utilizar o transporte público. Logo em seguida, vi que uma série de distâncias poderiam ser percorridas à pé. Pouco depois, comprei minha primeira bicicleta “de adulto” e, no final de 2004, decidi vender o carro, que já passava mais tempo na garagem do que fora dela.
Nos últimos seis anos, a saturação do modelo automobilístico (responsável pelos congestionamentos, prejuízos financeiros, abandono da cidade, violência e danos à saúde), colocou em evidência a necessidade de buscarmos coletivamente alternativas.
programação do Sesc Maceió em setembro/2010
Ainda que pouco ou quase nada de concreto tenha mudado na cidade de São Paulo, que continua a colocar no altar o automóvel e desprezar todas as outras formas de locomoção, é possível identificar a crescente insatisfação com as políticas carrocratas.
Há um avanço significativo na produção de conteúdo acadêmico, jornalístico e cultural sobre o tema, praticamente inexistentes em 2004. O debate em torno do resgate da cidade para as pessoas e as ações que reivindicam a construção de novos paradigmas de convivência nas ruas também cresceram em qualidade e intensidade.
São Paulo é uma cidade que beira o crônicamente inviável: as estruturas predatórias do espaço e da convivência pública (condomínios, shoppings, pontes e avenidas) têm bases muito sólidas na geografia urbana, sendo reforçadas a cada esquina por modos de vida igualmente predatórios. Mesmo assim, as brechas no atual estágio do totalitarismo consumista existem e são exploradas cada vez com mais força e criatividade por cidadãos e movimentos.
O papel da sociedade nesta transformação é difícil de ser medido, já que governos e corporações tendem a transformar críticas e dissonâncias em factoides ou produtos, que não ajudam e chegam até a dificultar a real transformação das estruturas de opressão e controle.
O hype em torno da mobilidade urbana (bicicletas especialmente incluídas) vai passar e, se a sociedade não agir para transformar de fato as condições de uso da cidade, restará apenas um monte de fumaça no ar.
A paciência para notar o tempo histórico, a seriedade para olhar além do próprio umbigo e a perseverança que evita frustrações são componentes importantes desta atuação.
Com isso, quem sabe o vídeo Sociedade do Automóvel perca a sua atualidade, transformando-se apenas em um registro histórico de um momento superado.
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