142 páginas de anúncios e cadernos especiais de três montadoras
prometendo felicidade, dinheiro e um mundo perfeito
nos três maiores jornais de SP no sábado seguinte ao Dia Sem Carro
Ocultar a destruição ocasionada pelo uso excessivo dos automóveis com malabarismos lingüísticos é tarefa importante da mídia. Congestionamentos e poluição geralmente são tratados como fenômenos naturais, algo que simplesmente acontece, como a chuva.
Mortes no trânsito, ainda que tenham como principal razão o excesso de velocidade e o comportamento do motorista, são chamadas de “acidentes”, como se todas as condições prévias não estivessem dadas.
Duas notícias da Folha de São Paulo:
Pedestre morre atropelado na Vila Olímpia
Ônibus bate em poste e deixa feridos na zona norte de São Paulo
No primeiro caso, o agente da frase é o pedestre, ou seja, parece que o cidadão se matou ao ser atropelado por um carro. Testemunhas relataram que o homicida estava em alta velocidade. Logo, o título mais óbvio e completo para a notícia seria “motorista em alta velocidade mata pedestre na Vila Olímpia”.
Na segunda notícia, quem pratica a ação na frase é o ônibus, veículo dedicado àqueles que não conseguem comprar carro, portanto passível de atrocidades como atropelamentos.
Enquanto os feridos pelo ônibus ganham justa “inocência gramatical” no título escolhido pelo jornalista, a vítima fatal do automóvel ainda foi tratada como sujeito da ação (“pedestre morre”).
(dica: Danilo Martinho May)
6 Comments