Menos vagas, mais ciclovias e faixas de ônibus

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(espaço público ocupado pelas propriedades privadas)

O Estado de S. Paulo do último domingo trouxe uma matéria sobre o gasto dos paulistanos com estacionamento. Os carro-dependentes chegam a gastar R$447 por mês só para estacionar seus automóveis.

A notícia repercutiu na segunda-feira em alguns programas de TV. A maior parte mostrava o “valor absurdo” cobrado pelos estacionamentos, chegando a sugerir que os preços fossem tabelados (ué, mas não vivemos tempos de livre-concorrência?). Transporte público? Bicicleta? Não… isso é só para quem não “venceu na vida”.

Expropriação legalizada
Os automóveis são propriedades privadas e ocupam muito espaço, ainda mais se pensarmos que a taxa de ocupação na cidade é de 1,2 pessoas por veículo. Estacionar de graça nas ruas (espaço público) é uma incongruência gigantesca; a função básica de uma rua é a circulação de veículos (motorizados e não-motorizados). Por isso as pessoas não podem montar piscinas de plástico ou churrasqueiras junto ao meio-fio nem aos domingos.

Em uma cidade que vive entupida pelos carros, uma boa idéia seria restringir ainda mais o estacionamento grátis. O monstruoso espaço ocupado pelos carros poderia ser transformado em ciclovias, praças, canteiros, corredores de ônibus e até em novas faixas de circulação para automóveis.

Sobre a matéria do Estadão, só resta dar risada ao saber que os frequentadores da nova Daslu (centro de compras para grã-finos) terão que desembolsar R$30,00 pela primeira hora de estacionamento. Será que tem estacionamento para bicicletas?

É um gênio!
Resta também lamentar a lógica automobilísitica do consultor de trânsito Luiz Célio Bottura: “Se houvesse estacionamentos privados suficientes, ninguém ia parar na rua, o que livraria pelo menos uma faixa a mais para o trânsito fluir”. Só que não há e nunca haverá espaço suficiente para todos os carros; ao menos enquanto o planejamento urbano e econômico continuar voltado para o estímulo aos automóveis.

Vale lembrar que Bottura sugeriu recentemente que os ciclistas deveriam trafegar na contra-mão. Pela lógica do engenheiro, os ciclistas devem se proteger dos carros. Imagino que os pedestres também seriam obrigados a redobrar sua atenção, já que as ruas de mão única passariam a ter tráfego nos dois sentidos (carros em um e bicicletas em outro).

Bottura subverteu a lógica de coexistência pacífica no trânsito ao afirmar que os mais fracos devem se proteger dos mais fortes, quando o Código de Trânsito e o bom-senso prevêem exatamente o oposto. O engenheiro também se esqueceu das aulas de física: em um choque de dois corpos em sentidos opostos, as velocidades são somadas (ou seja, o estrago é bem maior).

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