Carrocracia explícita, inversão total do bom senso e da lei, escarro oficial na tentativa de construção de cidades humanas, sistema de adestramento público para a obediência à superioridade das máquinas: a pintura “olhe” com setas apontando para os dois lados é comum nas faixas de pedestre paulistanas.
Na anti-cidade, quem deve é olhar é o pedestre. Se você está a pé, “proteja-se das máquinas”, elas matam. Mas se você tem uma armadura de duas toneladas, em especial aquelas com vidros escuros, acelere, afinal a vida que atravessa na sua frente deve olhar, parar e deixar o seu veículo passar.
A normalização do absurdo é sintoma de uma sociedade doente.
Imagens idílicas de outras paragens ou tempos atrapalham a sua pseudo-calçada inclinada. Não reclame, não questione, não proteste: elas servem aos negócios público-privados e também ajudam a entreter quem abastece de poluição o tanque de sua máquina de duas toneladas para o transporte de 70kg.
E se alguém perguntar, diga que o de baixo é vandalismo, o do meio é propaganda irregular e o de cima é apenas a lei e a ordem…
(clique na imagem para amplia-la, amplie para vomitar)
Afinal, na anti-cidade onde só se escuta o ronco do carro, só se vê o carro e só se fala do carro, propaganda corporativa com dinheiro público travestida de arte e com toques de piada de mau-gosto são coisas normais.
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