O direito de consertar a cidade

Avenida Paulista, um quase-oásis na anti-cidade: reformada há cerca de dois anos, tem calçadas largas e conservadas como não se encontra em nenhuma outra parte da metrópole.

Diariamente, um milhão de pessoas caminham por lá.

No domingo ensolarado, a “grande cadeira” convidava os passantes para uma “experiência” na avenida sem bancos.


foto: cabelo

Mais de meio milhão de ciclistas pedalam diariamente nas ruas de São Paulo, dividindo espaço com ônibus, carros, motos e caminhões.

Os “órgãos competentes” da cidade nunca disseram aos cidadãos (através de sinalização, educação ou fiscalização) que o compartilhamento da rua é lei e que a prioridade é do ciclista.

Sinalização cicloviária de recapeamento mal-feito.


foto: aline

Ciclofaixa da Vergueiro: ação provocativa de grande repercussão midiática.

“Clandestina”, “irregular” e “falsa” foram algumas das palavras usadas pela mídia para descrever o pictograma no asfalto.

Junto com holofotes, as bicicletas foram apagadas e os ciclistas continuam se perguntando: se não é junto com as motos, por onde devem andar as bicicletas? E onde estão as ciclofaixas “oficiais”, “regulares” e “verdadeiras”?

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“Vandalismo: ato ou efeito de produzir estrago ou destruição de monumentos ou quaisquer bens públicos ou particulares, de atacar coisas belas ou valiosas, com o propósito de arruina-las” (dicionário Houaiss).

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ciclofaixa da vergueiro: [1][2][3][4][5][6][7][8][9]
ciclofaixa Ponte Cidade Universitária – [terrorismo 1][terrorismo 2][resposta]
Urban Repair Squad
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Pó e puta pode. Pamonha, não pode.

Sábado, 4:20 da manhã, rua Augusta, São Paulo.

O “rapa”noturno mobiliza quatro viaturas da Guarda Civil, um caminhão, duas kombis e quase três dezenas de funcionários públicos. Alguns cumprem a tarefa com constrangimento, escondem o rosto e se movem de cabeça baixa recolhendo o material como se estivessem pedindo desculpas pela missão que têm que cumprir.

O perigoso vendedor de milho, cural e pamonha é pego de surpresa.

Tem sua mercadoria confiscada e o seu carrinho apreendido.

Alguns passantes se revoltam: “rapa do caralho”, “falta do que fazer”…

O vendedor não reage, a não ser por algumas palavras em tom mais elevado e alguns milhos atirados no chão em protesto.

O ambulante não pertence à mesma casta dos frequentadores dos bares e casas noturnas da região. Sabe que palavras mais graves ou protestos mais exacerbados terminariam, para ele, em delegacia, alguns tabefes e o enquadramento em algum artigo genérico como “desacato” ou “resistência à prisão”.

Os agentes da guarda que tem como única função o enxotamento de moradores de rua e a repressão ao comércio ambulante (inclusive de de milho, pipoca, toucas, cachecóis e outros produtos altamente perigosos) também não abusam da truculência. Sabem que estão em região onde circulam pessoas da casta superior, algumas desconfiadas de que existem problemas muito mais graves na cidade do que a venda de milho na porta de uma casa noturna.

“Cada vírgula do discurso do paulistano é previsível, apesar de suas versões variadas de pontos de partida e chegada”. *

O status quo paulistano associa todo o comércio ambulante à máfias chinesas, trabalho escravo, pirataria e criminosos de alta patente. Não enxerga ou prefere não enxergar matizes. Não vê a diferença entre o vendedor de milho e o mafioso chinês amigo e  suposto parceiro do ex-Secretário Nacional de Justiça.

Ou melhor: vê difereça sim e prefere o rapa noturno que leva o carrinho do vendedor de milho, o enxotamento violento de moradores de rua e todas as peneiras que tapam o sol da desiguldade à prisão dos grandes traficantes de drogas, dos mafiosos da alta sociedade, do combate ao crime e à corrupção que andam de mãos dadas com o poder.

Mais importante é limpar o caminho e higienizar a cidade para que a chamada a alta sociedade possa andar “tranquila” dentro de seus SUVs com vidros escuros, morar nas “torres” de alto padrão isoladas da realidade e fazer suas “compras” em lojas, puteiros e traficantes de luxo.

Em tempo: esta reflexão não passa pelo julgamento moral das drogas, da prostituição ou do luxo, mas sim pela análise da hipocrisia míope e esquizofrênica de uma cidade brutalmente desigual, que acha normal gastar recursos públicos com a apreensão de um carrinho de milho às 4:20 da manhã.

* Frase do texto “Viradas e Paradas”, de Gisella Hiche, uma crônica sobre a era da higienização paulistana

Vauban e o uso racional do automóvel

foto: cc tom brehm

(tradução livre de artigo publicado na edição 42 da revista Carbusters)

A pequena comunidade de Vauban, na periferia de Friburgo, sudeste da Alemanha, é um bom exemplo de como a participação dos cidadãos é fundamental para reduzir a pegada ecológica. Com a ajuda de programas de compartilhamento de automóveis, políticas de restrição de estacionamento e uma excelente infraestrutura de transporte público e bicicletas, a cidade de Friburgo, junto com o Fórum Vauban, criou uma comunidade onde o uso do automóvel se restringe ao necessário.

Vauban, até o momento da reunificação alemã, era uma base do exército francês. Concebida como uma base militar, seu “desenho urbano” jamais foi pensado para acomodar o uso do automóvel particular: suas ruas serviam apenas como pequenas passagens entre as instalações.

Quando os militares franceses deixaram o local, em 1992, os habitantes de Vauban ganharam uma área relativamente construída de 41 hectares e a administração planejou demolir tudo e construir um novo empreendimento imobiliário.

Um grupo de estudantes, adultos solteiros e cidadãos desempregados decidiu ocupar partes de Vauban, protestando contra o novo empreendimento e estabelecendo uma comunidade baseada nos princípios da auto-organização e do baixo custo. Eles começaram a se chamar de SUSI: sigla para Ocupação Independente e Auto-Organizada. Depois de longas negociações com o governo, os ocupantes conseguiram construir quatro prédios e converter as instalações militares em moradia para mais de 260 pessoas, utilizando o espaço também para áreas de lazer, postos de trabalho e diversão – tudo livre de carros.

foto: cc adeupa de brest

O Projeto SUSI consistiu em um experimento de modos alternativos de vida e planejamento: o objetivo era construir formas sustentáveis de vida e trabalho. Construir de maneira ecológica, econômica e livre de carros foi a maneira de alcançar uma comunidade sustentável e socialmente integrada.

As moradias do Projeto SUSI ocupavam apenas uma pequena parte de Vauban. A utilização dos 38 hectares remanescentes foi submetida à consulta pública pelo Fórum Vauban, que convenceu as autoridades inicialmente céticas a respeito da importância de manter a área livre de carros. O Fórum Vauban funcionava como “braço jurídico” da participação popular e foi co-responsável pelo desenho urbano que viria abrigar os novos habitantes.

A construção da nova Vauban começou em 1998, tendo como base a utilização de soluções ecológicas para eletricidade e saneamento. Uma usina movida a gás e serragem fornece energia para dois terços de Vauban; painéis solares cobre o resto da demanda. Um sistema de drenagem foi construído em todo o distrito.

foto: cc kaffeeeinstein

A organização do sistema de transporte parte de um princípio diferente: em vez de controles e penalidades, eles escolheram dicas e políticas comuns. As alternativas sustentáveis devem ser atrativas: tarifas baixas para o transporte público e custo bastante alto para o estacionamento de automóveis, rotas para bicicletas que levam a todos os lugares e vagas de estacionamento de carros localizadas apenas em garagens na periferia.

A ideia de uma sociedade livre de carros desempenhou papel central na constituição de Vauban, mas o termo “sem carros” é raramente utilizado. O uso individual do automóvel é que é o problema e os programas de compartilhamento de veículos são estimulados.

Os residentes das partes livres de carro de Vauban devem assinar uma declaração anual de posse ou não de um automóvel. E se eles possuem um carro, devem comprar uma vaga em uma das garagens da periferia. As vagas são cobradas de acordo com o custo real desta infraestrutura: o preço de uma vaga ultrapassa os 17 mil Euros, além de uma cobrança mensal pela manutenção.

Vauban não é uma comunidade livre de carros, mas uma comunidade que faz um uso racional destes. Uma pesquisa realizada em 2000 detectou que 54% dos habitantes possuíam automóveis, mas que apenas 16% das viagens eram feitas utilizando este veículo.

Ainda que Vauban não seja livre de carros, existe uma outra área de Friburgo que é: desde 1971 a cidade vem fazendo investimentos massivos em áreas para pedestres, infraestrutura cicloviária e transporte coletivo. Desde 1984 todo o centro histórico é completamente livre de carros.

Hoje a população de Vauban excede os 5 mil habitantes. Famílias com crianças vivem próximas umas das outras em prédios com 4 ou 5 andares, utilizando ônibus para ir à escola ou ao trabalho juntas e, vez ou outra, compartilhando um carro para fazer compras de volumes maiores. Desde 2006 existe uma linha de bonde conectando Vauban e o centro de Friburgo e o desenvolvimento de novos conjuntos habitacionais segue em curso.

forum vauban (en – de)
susi projekt (de)
vauban.de (en – de)

CET, sempre um bom exemplo pra você

rua Fradique Coutinho, sem nenhuma emergência ou acidente

Caminhada de sábado na Vila Madalena

Calçadas da rua Lisboa, estacionamento da Pça. Benedito Calixto – Lado A

Calçadas da rua Lisboa, estacionamento da Pça. Benedito Calixto – Lado B

Calçadas da Mourato Coelho – Lado B

Calçadas da Mourato Coelho – Lado Z

23 de maio

foto: aline

No dia 17/05/2010 por volta das 12h o Tomás saiu de casa para ir à faculdade de bicicleta como sempre fazia. Quando ele estava indo pela Rua Arq. Jaime Fonseca no sentido da praça Panamericana, na esquina da Av. Diogenes Ribeiro, bateu em um táxi. Uma pessoa pegou o celular dele e conseguiu avisar a Mari que junto com a Hilda foram até o local.

Ele foi socorrido quase que na hora pelo SAMU e levado para o HC onde a Biah tia dele e médica o esperava. Por volta das 19:00hs do mesmo dia foi transferido para a UTI do Hospital Albert Eintein. O maior problema é que ele teve um movimento muito forte na cabeça que fez com que o cerebro se movimentasse. Isso o colocou em coma. Além disso teve “somente” uma perfuração no pulmão e praticamente nenhum arranhão.

A perspectiva que nos foi dada é de que o processo de recuperação é lento e longo…algo como 15 dias de UTI e mais dois meses de hospital.

Hoje, 4ª feira (19/05) era para o quadro ainda estar piorando, mas para nossa alegria teve uma estabilização.

O médico disse que daqui há alguns dias será por conta dele!!! ” (do blog do tomás)

foto: aline

No domingo (23), familiares, amigos, ciclistas e o motorista do taxi que atingiu Tomás se reuniram no local do acidente para estimar melhoras ao garoto, que permanece internado.

Tudo indica que o acidente de Tomás não foi causado por imprudência ou má-fé do motorista: o ciclista teria passado com o sinal amarelo em um cruzamento movimentado e que possui conversões à esquerda nos dois sentidos.

foto: aline

O recado pintado no asfalto lembra que pelas ruas da cidade circulam vidas, e não apenas carros, bicicletas, motos, caminhões ou ônibus. Quanto maior a velocidade, maior o risco.

foto: macacoveio

Não muito longe do local do acidente, outra sinalização começou a funcionar no domingo (23). Formada por mais de 40 bicicletas pintadas no asfalto, a Ciclofaixa da Ponte Cidade Universitária tenta auxiliar os ciclistas na difícil travessia compartilhada com os motores em velocidade desnecessariamente alta.

atos de amor e coragem – a executiva
fotos: [macacoveio][aline]
vídeo: radar sp – globo (6’50 – sobre a ciclofaixa)
blog do tomás

Tão simples


arte: cc monkiemag

Altamente recomendado o texto “Delicadeza”, de Maria Rita Kehl, sobre os caminhos (im)possíveis para a São Paulo S/A do século XXI. Do começo ao fim, uma aula sublime de interpretação de cidades.

Leia, pense, releia e repasse.

“Delicadeza”, de Maria Rita Kehl
grifos do psico-ambiental
guerra é paz: aula de retórica Bandeirante – a defesa do mesmo

Passione (sem lycra)

Ciemmona 2008: The Eternal Mass de William Laviano

Andiamo alla spiaggia

Delinquência *

“Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação.” (Código de Trânsito Brasileiro, Lei Federal 9.503, de 1997)

* 1) ato ou efeito de delinquir, 2) desobediência a leis, regulamentos ou padrões morais; delito, infração (dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)

O hábito faz o monge: [2006][2007][2009][2009]

Praça