Ação, diversão e reflexão

(clique nas imagens para amplia-las)

Na sexta-feira (26), a Massa Crítica paulistana sai às ruas pela enésima vez em uma porção de anos. Encontro às 18h, na Praça do Ciclista. O que acontece por lá? O que você quiser que aconteça…

Também na sexta-feira, a Igreja Presbiteriana do Butantã realiza sua 84a Sexta Filosófica. Música, reflexões e um bate papo sobre “Bicicletas, espaço público e a superação da sociedade do automóvel”.

As atividades começam às 19h. A IPB fica na Avenida Afrânio Peixoto, 457 – Butantã.

No domingo (28), o priumeiro aniversário do Pedal Verde e o octagésimosegundo aniversário do Viveiro Manequinho Lopes. Encontro às 8h da manhã

A onomatopeia do buraco

fotos: urban repair squad

Preocupado com a segurança dos ciclistas, o Urban Repair Squad de Toronto (Canadá) resolveu sinalizar alguns obstáculos “naturais” da cidade. Em São Paulo, a Esquadrão de Recuperação das Cidades teria um pouco mais de trabalho: além dos buracos que colocam em risco a vida dos ciclistas, teriam que lidar com o asfalto eleitoral e com algumas engenhocas desenvolvidas para aumentar o potencial de engarrafamento das vias.

fotos
artigos em outras publicações

Divirta-se

arte: NOSSA / sobre jornal de sábado

Hollywood explica a sociedade do automóvel

Trecho do filme “A Queda do Poder” (The Magnificent Ambersons), remake do segundo filme de Orson Welles, que retrata a decadência da aristocracia estadunidense no final do século XIX e a ascensão da nova burguesia industrial.

Na conversa, Eugene Morgan, um fictício inventor do automóvel, fala sobre as transformações que as “carruagens sem cavalo” provocariam na sociedade e nas cidades do século XX.

Dica do Psico-ambiental.

Desafiando Roma

foto: cc edugreen

No último sábado (13), mais de uma centena de ciclistas desfilou pelas ruas da cidade com os corpos pintados ou simplesmente sem roupas, chamando a atenção para a fragilidade de quem usa a bicicleta no cotidiano.

A 3a Pedalada Pelada da capital seguiu o calendário mundial e consolidou a cidade entre as dezenas que anualmente hospedam encontros desse tipo de encontro.

Na primeira edição, em 2008, a Pedalada Pelada terminou na frente da delegacia para exigir a libertação de um ciclista que havia sido preso. Em 2009, a corrida de Tom e Jerry foi marcada pelo forte aparato policial, que impediu muita gente de tirar a roupa no Santuário da Avenida Paulista (ainda que, depois de uma fuga estratégica pela esquerda, muitos tenham se livrado da fina camada de tecido que os protege diariamente nas ruas).

foto: cc edugreen

Em 2010 os participantes da Pedalada Pelada resgataram um pouco do significado da frase “sem heróis, sem líderes, sem fronteiras” e a massa rizomática deu mais um “perdido” nas dezenas de homens de farda mobilizados para impedir a nudez.

Apesar de quatro detenções, a pedalada terminou em clima ameno e festivo na Praça do Ciclista, onde até agentes infiltrados da polícia procuravam “lideranças subversivas”, enquanto alguns cidadãos lembravam ao capitão da PM que o movimento de ciclistas em São Paulo é essencialmente pacífico e só quer colaborar com as transformações necessárias para uma cidade mais humana e agradável. Memorável foi a salva de palmas aos policiais ciclistas que chegaram na Praça ao final do rolê.

foto: cc luddista

Nesta edição, urubus midiáticos não estiveram presentes para sexualizar ou ironizar a manifestação. O clima, do começo até o fim, era de respeito e festa. O faça-você-mesmo prevaleceu em 2010: vários ciclistas vieram fantasiados, mascarados, pintaram os corpos, trouxeram cartazes e até panfletos para lembrar que o ciclista na rua não está protegido por nenhum dispositivo de segurança como air-bags ou carapuças metálicas.

foto: cc edugreen

A Pedalada Pelada certamente questiona outros valores além da predominância dos motores nas ruas.

Aceitar a bicicleta como um veículo legítimo e digno de respeito talvez não tenha relação direta com a quebra do falso-moralismo pré-histórico que ainda assola o Brasil – é certamente muito difícil passar a mensagem de que a nudez da Pedalada Pelada não tem nada a ver com as bundas sexualizadas dos programas televisivos da “família brasileira”.

No entanto, a bicicleta tem sido peça fundamental de muitas transformações indiretas no olhar, no comportamento e nas relações entre os cidadãos e destes com seu habitat. Talvez aceitar a nudez não sexualizada esteja tão distante quanto incorporar a bicicleta realmente ao cotidiano da cidade e às políticas públicas.

foto: maucantara

A experiência da Pedalada Pelada 2010 em São Paulo trouxe aprendizado para os que participaram, reforçou a solidariedade e a noção de ação coletiva. Além disso, a realização pelo terceiro ano consecutivo abriu caminho para que a quarta, a quinta ou décima edições sejam bem mais enfáticas na tentativa de visibilizar o ciclista como parte do espaço urbano.

A bicicleta abre olhos, transforma cidades e muda a cabeça dos seres condicionados pela linearidade dos motores e pela lógica do desenvolvimento insustentável. Nus, ciclistas diante do tráfego podem não trazer nenhuma reflexão imediata que não algumas risadas da população. Mas talvez o estranhamento causado pela massa alegre seja importante para a aceitação do novo.

World Naked Bike Ride 2010 em São Paulo
artigos anteriores sobre a Pedalada Pelada

Peladai-vos uns aos outros: 3a Pedalada Pelada em SP

artes: caos rizomático

www.tinyurl.com/wnbrsp
postagens anteriores sobre a Pedalada Pelada

2a Pedalada Pelada de Brasília

mais info

Fantasia e realidade

máquina pública sustentando a fantasia privada…

… máquina privada destruindo (e destruída pel)a realidade pública.

Os bordos da pista

A bicicleta é um veículo previsto em lei e seu condutor tem o direito de circular pelas ruas com tranqüilidade e segurança.

O Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 58, prevê que a circulação de bicicletas, “quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes” deve acontecer “nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação (…) com preferência sobre os veículos automotores”.

Em última instância, de acordo com a lei, a cidade de São Paulo tem cerca de 18 mil quilômetros de faixas prefernciais para bicicletas.

No mundo real, a primeira tarefa do ciclista é encontrar um bordo da pista. Nas ruas paulistanas, “bordo de pista” geralmente significa uma fila interminável de carros estacionados ou uma porção de buracos perigosos.

Passar muito perto de carros estacionados é perigoso: motoristas só enxergam semáforos, placas, o carro da frente e o motoboy que pode lhes arrancar o espelho caso não usem a seta. Eles não estão acostumados com bicicletas no trânsito e costumam abrir as portas de seus carros sem olhar para trás.

Nas poucas vias que não têm carros estacionados, o bordo da pista também é ameaçador.  Feitas e mantidas para os motorizados, as ruas de São Paulo são muito piores exatamente no espaço reservado aos ciclistas.

Buracos, lixo, pedras e grades de bueiro colocadas estrategicamente no mesmo sentido das rodas das bicicletas são obstáculos freqüentes.

O asfalto eleitoral usado nos recapeamentos quadrienais tende a apresentar buracos, rachaduras e ondulçaões geralmente nas emendas com o meio-fio, causados pelo fluxo de ônibus ou apenas pela baixa qualidade do material usado.

Usar concreto no lugar do asfalto em faixa de ônibus é luxo e não dá lucro à máquina público-privada de infra-estrutura viária. Apesar de mais caro que o asfalto, o concreto é resistente e durável, portanto tem baixo custo de manutenção e não é recomendável para manter os polpudos contratos das empreiteiras que sustentam campanhas eleitorais.

Além dos obstáculos “naturais”, o ciclista que pedala pelos 18 mil km de ruas ainda tem que enfrentar armadilhas pró-fluxo desenhadas especialmente pelos mais criativos carrocratas do mundo.

Na foto acima, uma dessas idéias geniais para manter a roda da fortuna em movimento: a substituição das antigas valetas em U por modelos mais “planos”. O objetivo é o de sempre: ampliar a capacidade de fluxo e o potencial de engarrafamento de uma determinada, fazendo com que a ligação entre os dois lados do congestionamento seja mais rápida.

Geralmente uma parte deste “novo fluxo” trazido pela criativa valeta fica parada em cima das faixas de pedestre.

Multa ou motivo de bronca? Nunca. O mantra é: “nunca feche o cruzamento”.

As ruas não vêm com manual de instrução. Descobrir hábitos e comportamentos para pedalar com segurança é um aprendizado para quem decide enfrentar os “rios hostis” que cortam boa parte das grandes cidades brasileiras.

Quem já embarcou no deslocamento sobre duas rodas e um selim sabe que o aprendizado é rápido e que o trânsito parece muito mais perigoso para quem está do lado de dentro das bolhas.

Entre as características que ajudam a segurança do ciclista estão o tempo de reação e a visão panorâmica do espaço. O ciclista enxerga melhor o movimento de quem está ao seu redor e tem mais tempo de reagir do que motociclistas ou motoristas.

Tornar-se visível nas ruas é tarefa fundamental, ainda mais em uma sociedade que valoriza carros altos e os lastimáveis vidros escuros como sinal de “superioridade” e “segurança” – talvez estas duas palavras pudessem ser traduzidas como “boçalidade” e “violência”.

foto: joão lacerda / transporte ativo

Ocupar o espaço das ruas é tarefa imperativa para a própria segurança do ciclista. E isso não é algo que precisa ser feito de forma violenta nem inconsequente, principalmente para quem acredita que o simples ato de pedalar transforma o espaço em que vive

Enquanto o motorista paulistano não aprender que a bicicleta faz parte da via e que é muito fácil manter distância segura ao ultrapassar o ciclista (como na foto acima), pedalar no trânsito ainda será uma tarefa que requer alguma atenção. O ciclista não deve pedalar espremido no canto da pista, já que qualqer pequena variação de rumo do carro ao seu lado pode terminar em incidente.

Manter uma distância razoável do canto da pista (ocupando 1/3 ou às vezes metade da faixa) é muito mais seguro do que pedalar “colado” na guia. Não apenas para se tornar mais visível aos motoristas, como também para poder desviar com segurança dos inúmeros obstáculos existentes nos bordos da pista.

arte: blu / foto: porpora60

Na São Paulo dos 15km/h de velocidade motorizada, ocupar a faixa inteira para garantir a própria vida muitas vezes já não soa como uma afronta ao engarrafado e impaciente motorista. Mas cabe ao ciclista julgar, a cada instante, quais são as condições e locais mais favoráveis para o seu deslocamento.

Evitar caminhos com excesso de motores é um bom segredo. Infelizmente, quase todas as ruas de São Paulo estão tomadas por automóveis, motos, caminhões e ônibus e muitas vezes não é fácil encontrar uma rota agradável e livre de ameaças em movimento.

Conquistar o espaço nas ruas a cada pedalada, evitar o conflito que só gera conflito e curtir a fila de carros com uma pessoa dentro parados no congestionamento é possível e muito mais agradável que parece.

Cocororicó

foto: cc kian esquire

Carro é mais lento que uma galinha em São Paulo

…  mas a máquina público-privada continua se esforçando para fazer você acreditar nas ilusões do século passado:

Velocidade irresponsável na cidade: carro de fórmula indy a 150km/h nas ruas de SP (ou a versão p/ assinantes, mais completa)

Nadadenovo…

Veja os abusos promocionais de ilusão da velocidade assassina nos últimos anos:

– Renault stupid show (2008) [1][2]

–  Exibicionismo privado no espaço público (2007)