Finde Bike

Mais um final de semana das bicicletas em São Paulo.

Neste sábado e domingo, acontece o primeiro Festival CicloBR, com provas de esportes lúdicos inspiradas no Pedalpalooza de Portland. Corrida de arrancada com bicicletas infantis, duelos medievais sobre duas rodas e bike polo agitam o Parque das Bicicletas. Confira a programação completa no CicloBR.

Este também será primeiro final de semana de funcionamento da Incompleta Ciclovia da Marginal Pinheiros, que será inaugurada no sábado. Com 14km de extensão no trecho inicial, a obra só tem dois acessos, não possui iluminação e talvez seja a única “ciclovia” do mundo com horário de funcionamento (das 6h às 18h), servindo essencialmente para o o treino esportivo e o lazer de final de semana. Mais um pequeno passo na grande cidade. Vale a pena ler este texto do Vá de Bike sobre a nova pista.

Massa crítica e os espaços coletivos

Ontem, 24 de fevereiro, a Praça do Ciclista completou quatro anos de vida.

Batizada por cidadãos anônimos durante a Bicicletada do carnaval de 2006, foi inaugurada sem a presença de políticos, aspones ou candidatos, apenas com a mão na massa e a alegria de quem desejava compartilhar alguns bons momentos no espaço público e transformar como formigas a cidade em que viviam.

A festa teve exibição de vídeos, música, alegria e até uma breve intervenção policial.

Um ano mais tarde, em reconhecimento à importância dos cidadãos em movimento que ali se encontram todos os meses para celebrar outras cidades possíveis, o logradouro foi oficializado através de um projeto de lei da então vereadora Soninha Francine.

arte: gabriela kato

Amanhã, 26 de fevereiro, quatro anos depois da bicicletada que criou a praça, talvez a festa, a alegria e a espontaneidade voltem a marcar presença na Praça do Ciclista durante mais uma massa crítica paulistana.

Nus, é como nos sentimos diante de tanta estupidez

(imagem: reprodução de anúncio em jornal)

Tudo que a anti-cidade entupida não precisa é seguir acreditando na fantasia do automóvel.

Tudo que a anti-cidade que mata e desrespeita pedestres, ciclistas, cadeirantes, motoqueiros e passageiros de transporte coletivo não precisa é estimular a velocidade idiota.

Tudo que o projeto industrial-empreiteiro-eleitoral da carrocracia precisa é manter acessa a ilusão de que o automóvel significa liberdade, velocidade e poder.

Nos dias 13 e 14 de Março, o projeto empreiteiro-eleitoral chamado de Nova Marginal será palco de uma corrida de automóveis. “Velocidade e adrenalina nas ruas da cidade”, para você esquecer o inferno cotidiano da cidade congestionada e continuar acreditando que o automóvel é uma solução individual para os problemas públicos.

Enquanto isso, no dia 13 de Março, pessoas em diversas cidades do hemisfério Sul realizam a World Naked Bike Ride, a pedalada pelada que propaga novos horizontes para construção coletiva de cidades humanas, onde o respeito e a convivência sejam mais fortes que a imoralidade do desperdício e da violência.

O mundo está ao contrário e ninguém reparou

Carrocracia explícita, inversão total do bom senso e da lei, escarro oficial na tentativa de construção de cidades humanas, sistema de adestramento  público para a obediência à superioridade das máquinas: a pintura “olhe” com setas apontando para os dois lados é comum nas faixas de pedestre paulistanas.

Na anti-cidade, quem deve é olhar é o pedestre. Se você está a pé, “proteja-se das máquinas”, elas matam. Mas se você tem uma armadura de duas toneladas, em especial aquelas com vidros escuros, acelere, afinal a vida que atravessa na sua frente deve olhar, parar e deixar o seu veículo passar.

A normalização do absurdo é sintoma de uma sociedade doente.

Imagens idílicas de outras paragens ou tempos atrapalham a sua pseudo-calçada inclinada. Não reclame, não questione, não proteste: elas servem aos negócios público-privados e também ajudam a entreter quem abastece de poluição o tanque de sua máquina de duas toneladas para o transporte de 70kg.

E se alguém perguntar, diga que o de baixo é vandalismo, o do meio é propaganda irregular e o de cima é apenas a lei e a ordem…

(clique na imagem para amplia-la, amplie para vomitar)

Afinal, na anti-cidade onde só se escuta o ronco do carro, só se vê o carro e só se fala do carro, propaganda corporativa com dinheiro público travestida de arte e com toques de piada de mau-gosto são coisas normais.

a vaca foi para o brejo – [1][2][3]

Dia de domingo na anti-cidade

banco sem encosto – compare com uma cidade

pântano anti-gente – compare com uma cidade

praticando o sedentarismo – compare com uma cidade

banco sem encosto – compare com uma cidade

quanto mais desconfortável, melhor – compare com uma cidade

curtindo o matagal – compare com uma cidade

los peatones – compare com uma cidade

“praça” da Sé – compare com uma cidade

bancos anti-gente, praça da Sé – compare com uma cidade

árvores anti-“mendigo” – compare com uma cidade

árvores anti-“mendigo” na cidade sem bancos – compare com uma cidade

bancos da Praça da República – compare com uma cidade

“praça” da República…

… a praça anti-gente no centro da anti-cidade

Cidades humanas, lição 1: bancos em praças
Dia de domingo

Outros carnavais

bicicleta da Miriam, Santiago – Chile

Caminho dos Anjos (MG):

relato e fotos – Aninha
fotos – Aninha
fotos – Falanstérios
fotos – Nani

Vale Europeu (SC)

relato e fotos – Feliz Cidade Feliz
fotos – JP

Registro – Paranaguá (SP-PR)

fotos – Mathias
fotos – Silas
fotos – Patty

Volar

“Por último, ela se pôs a imaginar como, muito mais tarde, essa sua irmãzinha seria uma mulher adulta. E como ela conservaria, através dos seus anos maduros, o coração simples e afetuoso da sua infância. E como ela reuniria ao seu redor outras crianças e, dessa vez, faria os olhos delas brilhar de alegria com tantas histórias fantásticas. Talvez até mesmo com o seu velho sonho do País das Maravilhas. E como ela se emocionaria com suas tristezas tão puras e encontraria prazer nas suas alegrias tão simples, lembrando-se da sua própria infância e dos dias felizes de verão” (Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas)

Cidades humanas, lição 1: bancos em praças

Há pelo menos uma década a cidade de São Paulo começou a remover os bancos de suas praças e parques. Mais recentemente, alguns  poucos assentos começaram a ser instalados novamente: sem encostos, feitos de concreto, com separações que não permitem deitar-se, propositalmente desconfortáveis.

No discurso higienista vigente, bancos de praça transformam os espaços públicos em regiões cheias de moradores de rua, “drogados” ou deliquentes. No ditado popular, para se livrar da sujeira, joga-se a água da bacia com a criança dentro.

Não são os bancos de praça os causadores da degradação do espaço público, do consumo de drogas, da deliquência ou da situação de rua em que vivem alguns milhares de pessoas.

Retirar bancos de praça, construir pântanos anti-gente, fechar albergues ou cercar baixadas de viadutos não fazem desaparecer moradores de rua, não reduzem o consumo de drogas, não acabam com a pobreza nem combatem a delinquência.

A degradação das condições de vida nos grandes centros têm raízes sócio-econômicas e urbanísticas bem mais profundas. Retirar, cercar, acabar ou tornar funcionais (?) os espaços de convivência causam exatamente o contrário do que esperam os higienistas.

A construção de ambientes segregados e enclaves fortificados como os “condomínios-parque” ou os “shpoppings-patio”, onde só é possível entrar ou chegar de carro, por exemplo, contribuem de maneira muito mais significativa para a degradação do espaço público. Empreendimentos deste tipo são os maiores responsáveis pela transformação da cidade em “terra de ninguém”, e não os moradores de rua ou consumidores de drogas.

Ambientes inóspitos e pouco convidativos à convivência causam o abandono do espaço público e, consequentemente, sua transformação em locais perigosos. Uma rua deserta é uma rua perigosa; uma praça cheia de gente é uma praça segura.

Cidades são e devem ser plurais e inclusivas. Varrer a “sujeira” para debaixo do tapete e criar guetos privados para o confinamento (de pobres e ricos) é a morte de qualquer cidade.

“atitude suspeita” em “banco de praça” paulistano

São Paulo agoniza com seus “valet parks”, praças cercadas e desertas, seguranças privados em toda esquina, viaturas de polícia sobre as calçadas, carros-esconderijo com vidros escuros e ambientes confinados para o consumo, diversão e suposta convivência entre os “iguais”.

Cronicamente inviável? Talvez… Buscar brechas e inspirações externas pode ser útil, mas não é preciso ir até as ricas cidades européias ou norte-americanas. Resgatar o espaço público livre e não condicionado é o único caminho para a (re)construção de uma metrópole habitável e este caminho está ao alcance de todos: resgate as ruas!

É proibido sentar

Calçadões de Santiago

No centro da cidade, uma grande área livre de carros permite a convivência e a circulação segura de pedestres pelas ruas. Os “paseos” ficam lotados todos os dias da semana. De segunda a sexta, cheios de gente que trabalha na região. Aos finais de semana, cheios de gente que passeia calmamente pelo espaço público.

Em outras regiões, existem até “avenidas peatonales”, exclusivas para quem se desloca sem motores.

Um posto de gasolina em Santiago

Este é o desenho básico de um posto de combustíveis em Santiago.

Calçadas que acompanham toda a extensão do estabelecimento e faixas pintadas de amarelo para ressaltar a preferência do pedestre nos locais onde não há calçada.

Os postos têm entradas e saídas, e não guias rebaixadas em toda a sua extensão.

Tão simples, tão óbvio…