Há pelo menos uma década a cidade de São Paulo começou a remover os bancos de suas praças e parques. Mais recentemente, alguns poucos assentos começaram a ser instalados novamente: sem encostos, feitos de concreto, com separações que não permitem deitar-se, propositalmente desconfortáveis.
No discurso higienista vigente, bancos de praça transformam os espaços públicos em regiões cheias de moradores de rua, “drogados” ou deliquentes. No ditado popular, para se livrar da sujeira, joga-se a água da bacia com a criança dentro.
Não são os bancos de praça os causadores da degradação do espaço público, do consumo de drogas, da deliquência ou da situação de rua em que vivem alguns milhares de pessoas.
Retirar bancos de praça, construir pântanos anti-gente, fechar albergues ou cercar baixadas de viadutos não fazem desaparecer moradores de rua, não reduzem o consumo de drogas, não acabam com a pobreza nem combatem a delinquência.
A degradação das condições de vida nos grandes centros têm raízes sócio-econômicas e urbanísticas bem mais profundas. Retirar, cercar, acabar ou tornar funcionais (?) os espaços de convivência causam exatamente o contrário do que esperam os higienistas.
A construção de ambientes segregados e enclaves fortificados como os “condomínios-parque” ou os “shpoppings-patio”, onde só é possível entrar ou chegar de carro, por exemplo, contribuem de maneira muito mais significativa para a degradação do espaço público. Empreendimentos deste tipo são os maiores responsáveis pela transformação da cidade em “terra de ninguém”, e não os moradores de rua ou consumidores de drogas.
Ambientes inóspitos e pouco convidativos à convivência causam o abandono do espaço público e, consequentemente, sua transformação em locais perigosos. Uma rua deserta é uma rua perigosa; uma praça cheia de gente é uma praça segura.
Cidades são e devem ser plurais e inclusivas. Varrer a “sujeira” para debaixo do tapete e criar guetos privados para o confinamento (de pobres e ricos) é a morte de qualquer cidade.
“atitude suspeita” em “banco de praça” paulistano
São Paulo agoniza com seus “valet parks”, praças cercadas e desertas, seguranças privados em toda esquina, viaturas de polícia sobre as calçadas, carros-esconderijo com vidros escuros e ambientes confinados para o consumo, diversão e suposta convivência entre os “iguais”.
Cronicamente inviável? Talvez… Buscar brechas e inspirações externas pode ser útil, mas não é preciso ir até as ricas cidades européias ou norte-americanas. Resgatar o espaço público livre e não condicionado é o único caminho para a (re)construção de uma metrópole habitável e este caminho está ao alcance de todos: resgate as ruas!
É proibido sentar