As cidades do mundo talvez pudessem ser divididas em duas categorias como indicativo de qualidade de vida e civilidade: aquelas onde o pedestre tem preferência nas travessias e aquelas onde os motores e a morte reinam soberanos.
Santiago se encaixa na primeira categoria. Em todas as esquinas, basta colocar o pé na rua e atravessar sem medo. Os carros param, como manda a legislação chilena e também a brasileira.
Boa parte das esquinas têm semáforos específicos para pedestres; nada de entortar a cabeça para olhar as luzes que controlam o tráfego motorizado.
O verde para o pedestre não interrompe o fluxo de veículos que fazem conversões, mas as máquinas devem esperar (e esperam) o término da travessia de quem caminha.
Nos cruzamentos e conversões não-semaforizadas, a preferência de quem anda à pé é absoluta.
Para facilitar a vida de pedestres e cadeirantes, além de reduzir a fúria dos motores, a cidade ainda tem muitas travessias no nível da calçada: é o carro quem sobe, não o pedestre que desce.
Implantar o respeito ao pedestre não exige nada, a não ser uma decisão firme, um “cumpra-se” espalhado aos quatro ventos.
Parcerias com veículos de mídia ajudariam muito, mas tanto o poder público quanto as empresas de comunicação brasileiras continuam a se interessar bem mais em provas de automobilismo, atividades recreativas e outros negócios mais lucrativos do que impedir a morte de pessoas e criar um ambiente urbano mais decente.
Em São Paulo, as iniciativas neste sentido são ridiculamente tímidas. A CET iniciou recentemente mais uma campanha de adestramento de pedestres. Com foco absoluto em não atrapalhar o trânsito, agentes uniformizados levantam estandartes óbvios em travessias semaforizadas avisando que “verde é verde e vermelho é vermelho”.
Vale ressaltar que as condições favoráveis ao pedestre em Santiago são bastante facilitadas pela ausência de veículos com vidros escuros.
Carros com “insul-filme” são raríssimos na cidade. Com isso, motoristas conseguem enxergar pedestres e ciclistas e todos conseguem estabelecer contato visual, aumentando a civilidade nas ruas e reduzindo o clima de “guerra cirúrgica e anônima” que impera em São Paulo.