Mudança no transporte

filmed by bike – canal no blip.tv
filmed by bike – videos online

Em caso de enchente, saia da bolha

arte: gabriela kato

Em caso de chuva, trajes adequados recomendados.

Bicicletada – São Paulo

A rua é sua, a cidade é nossa

arte: haase

Bicicletada – São Paulo

Airport Bike Service – Aline

Sem a integração dos aeroportos paulistanos com as redes de trens ou metrô, a pobre Aline teria algumas opções para chegar em casa na volta de suas férias em Aracaju.

Ou ela contaria com um amigo possuidor de automóvel para buscá-la queimando combustível, ou gastaria bastante dinheiro com um taxi, ou seria obrigada a levar algumas horas para ultrapassar (pelo menos) duas catracas de ônibus, carregando suas malas em coletivos que balançam, correm, solavancam, fazem barulho, custam caro e não têm horário certo para passar. Isso se eles ainda estivessem passando no horário em que ela chegou.

Nada como um pequeno grupo de amigos dispostos a tornar a volta de Aline para casa mais segura, econômica e agradável.

Como juntar os cacos

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Juntar os amigos em casa para comemorar é sempre divertido, mas acidentes aconteçem. Cuidar dos nossos “restos” é tarefa importante no dia seguinte.

No Brasil, boa parte do lixo produzido é de alguma forma manipulado por alguma outra pessoa. Em lixões, cooperativas de catadores ou mesmo no seu prédio, o seu “lixo” é uma fonte de recursos para muita gente.

Além de separar materiais recicláveis e reaproveitáveis do “lixo de fato”, tenha cuidado com a forma de armazenagem do que você produz.

Cacos de vidro não devem ser reciclados. Assim como outros objetos pontiagudos, podem provocar ferimentos em alguém que participa de toda a cadeia “invisível” que separa o ato de você descartar algo do destino final deste algo.

Aprenda no tutorial acima como o seu jornal de sábado pode ajudar a amenizar as consequências da sua noitada de sexta. E não se esqueça: reduzir é muito mais importante do que reciclar.

… de bicicleta…

22 textos foram recebidos no curto e movimentado período de final de ano, tempo de vida do Concurso Literário Diários de Bicicleta.

A escolha é sempre uma tarefa árdua. Minhas listas dos 10 melhores sempre têm, pelo menos, 14 coisas. Neste concurso, contei com a ajuda valiosa de dois amigos, que apontaram seus preferidos e justificaram a escolha.

Ao final, 5 grandes textos estavam no páreo, mas apenas dois seriam escolhidos. Não havia divisão entre prosa e poesia, mas o “Soneto em Duas Rodas”, de Felipe Fontes, e o relato cotidiano de altos e baixos em “Nada é complicado para quem sabe voar”, de André Gravatá, além de bem escritos, resgatam sensações ímpares da experiência de viver sobre duas rodas e nenhum motor.

Cada um vai ganhar um exemplar do livro Diários de Bicicleta, de David Byrne.

Os textos seguem logo abaixo, com ilustrações magníficas do Cabelo.

arte: igual você

Soneto em duas Rodas – Felipe Fontes

Santo Pedro manda pra todos um recado
que só consegue ouvir quem está molhado.
É pra se ter de ouvido:
“Você tá vivo, menino!”

Chame a chuva pra chinfra; vem a chuva,
e o cheiro de chuva em chamas chamusca.
Chove em Quixotes
uma chuva-chicote.

Montados em suas magrelas
(que tratam como donzelas)
encontram-se seres humanos.

Cicloquixotes que chovem sozinhos
enfrentando gigantes-moinhos
voando ligeiro, anjos urbanos.

arte: igual você

Nada é complicado para quem sabe voar numa bicicletaAndré Gravatá

Lama. Muita lama. É na lama que a gente percebe que o chão não é o limite. Em Embu das Artes, cidade localizada no estado de São Paulo, é fácil encontrar intermináveis campos batidos de terra para caminhar, jogar bola e às vezes andar de bicicleta. Nada melhor do que arriscar andar num desses campos um dia depois de uma chuva. E melhor: fazer isso ainda aprendendo a pedalar.

Quedas? Inevitáveis. Como é mais uma daquelas cidades pequenas, com pouco mais de duzentos mil habitantes e uma aura de vila, com os moradores acordando pela manhã e se encostando à janela para olhar a paisagem, indo comprar pão na padaria do Seu João, as pessoas não paravam de me observar, certamente torcendo para eu me atolar.

Demora um pouco e aparecem outros ciclistas, estes na rua, nem de longe imaginando se aventurar na terra vermelha. Enquanto pedalo, moradores passam e dizem “Bom dia!”, “Cuidado aí”, e eu continuo margeando o perímetro do campo com a minha magrela, às vezes comendo um pouco de terra, em vezes que me deixavam ainda com mais vontade de continuar pedalando ali, onde realmente me sentia em contato com a Terra com T maiúsculo.

Já todo sujo, depois de alguns tombos e arranhões, decidi subir uma ladeira, de asfalto, próxima ao campo. Subir uma ladeira é algo normal quando a ladeira é apenas uma ladeira. Mas quando a ladeira é quase uma linha de 90° encontrando o chão, o desafio exige um pouco mais de esforço. Claro que estou exagerando, porque ladeira nenhuma é perpendicular ao solo, mas é inegável que algumas ladeiras foram feitas para escalar e não para subir pedalando.

Suei. Só de lembrar já dá vontade de ir me hidratar. Suei, subi. Então, veio a melhor parte, que só de lembrar já dá vontade de reviver. Quando você desce uma ladeira dessas, dá a impressão de que está descontrolado, o vento passa por você – ainda mais aquele vento pós-dia-de-chuva, que tem uma umidade acalentadora, doce – como se você estivesse dançando no ar. Nunca voei, pelo menos não até hoje, mas sinto que é como voar. Nessas horas a gente sente um frio na barriga, na mente, na boca, nas pernas, nos pedais, que se fundem a nós na velocidade da descida. É como se a bicicleta e o meu corpo fossem um só, meio que estamos em cima do limiar que separa a vida e a morte, e não no sentido de perigo, mas no de ir além de si mesmo, de testar limites.

Pode parecer exagero, mas descer essa ladeira foi para mim uma metáfora da vida. A gente nasce e tudo passa tão rápido, é como se subir a ladeira fosse nossa infância de crianças ingênuas que nem sabem mexer nas marchas. A visão do topo da ladeira, quase uma montanha, corresponde àquela época na qual estamos descobrindo o mundo na sua imensidão e a gente aprende que nunca aprendemos o bastante diante da enormidade de tudo que se tem para aprender… Enfim, daí vem a descida, é a adolescência, efêmera, intensa na sua fugacidade. Nela, a bicicleta deixa de ser bicicleta e passa a ser nós mesmos, a gente se funde com tudo ao nosso redor, é um Nirvana, uma transcendência, uma pequena morte, quase um orgasmo a céu aberto.

Então a velocidade diminui, e tentamos continuar sentindo a brisa que acabou de nos envolver por inteiros. É a vida adulta, na qual na maioria das vezes tentamos estender as loucuras juvenis. E daí seguimos pedalando, pelas calçadas, olhando o mundo de uma forma diferente, afinal, a vista lá de cima nos dá uma perspectiva bem mais ampla. E o melhor de tudo é que, com um pouco de esforço, podemos voltar na ladeira a hora em que quisermos e sentir a plenitude da vida levada nos pedais.

Depois disso, nem lama, nem tombo, nem tempo nos incomoda. Seja em Embu das Artes ou na China, para quem sabe voar numa bicicleta nada é complicado.

Márcia Prado, presente!

Hoje faz exatemente um ano que a pressa motorizada levou uma nova amiga. A primeira perda, a primeira vítima próxima, a primeira ativista da coexistência que eu conheci de perto a tombar por causa da carrocracia.

Hoje faz exatemente um ano que recebi um telefonema do André, chorando, contando sobre a morte da Márcia a poucos metros da minha casa e dizendo “não quero mais perder ninguém”. A muitos quilômetros de distância, chorei outro tanto: não queria ter perdido ninguém e não queria estar tão longe e incapaz como naquele dia.

Márcia virou símbolo da luta por cidades humanas, virou nome de rota cicloturística para alcançarmos outras cidades e conhecermos outros humanos. Virou lembrança sempre presente e viva, para que a gente se sinta presente e vivo. Virou a certeza de que somos muitos, mas continuamos frágeis. De acordo com as estatísticas, a cada cinco dias um ciclista é morto em São Paulo em colisões com veículos motorizados.

Márcia virou saudade de um futuro que há de chegar; um tempo onde Márcias, Pedros, Antônios, Marias, Paulos, Silvias, Pedros, Joanas, Andrés, Fernandas, Henriques, Lauras, Josés ou qualquer outro nome pelos quais chamamos as vidas próximas ou distantes das nossas possam pedalar ou caminhar tranquilamente.

Hoje, um ano depois do incidente que tirou uma vida, acontece uma homenagem à Márcia Prado. A concentração é às 18h, na Praça do Ciclista.

Em Aracaju e Florianópolis, também acontecem homenagens para lembrar um ano sem Márcia.

márcia vive – ciclobr
homenagem à márcia, uma ciclista – milton jung
textos anteriores sobre Márcia Prado no apocalipse motorizado

Basta de repressão policial a manifestações populares

22 de abril de 2000, município de Porto Seguro, Bahia.

Centenas de cidadãos vindos de todas as partes do país iniciavam uma marcha em direção à Santa Cruz de Cabrália. A caminhada pretendia encontrar representantes de comunidades indígenas que participavam de um encontro nacional. De lá, ativistas, militantes, indígenas, estudantes e cidadãos em geral pretendiam marchar de volta até Porto Seguro, onde aconteciam as festividades oficiais da comemoração dos 500 anos de descoberta (sic) do Brasil.

A campanha “Brasil: outros 500” mobilizou milhares de pessoas em todo o país ao longo do ano 2000. O nome era um contraponto à campanha oficial, “Brasil 500”, uma lembrança dos cinco séculos anos de massacres de comunidades indígenas, exploração de recursos naturais, escravidão e subserviência do país às metrópoles estrangeiras.

Em Porto Seguro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confraternizava com o ex-governador Antônio Carlos Magalhães e empresários durante a festa “para gringo ver”.

As festividades oficiais foram amparadas por um esquema de segurança que incluiu helicópteros, forças militares e de inteligência em grande escala. Nos dias anteiores, ônibus de manifestantes haviam sido barrados na estrada de acesso a Porto Seguro sem que nenhuma explicação fosse dada.

O clima de terror, com policiais e soldados do exército por todos os lados, deixava claro o recado: as festividades oficiais, tocadas pelo governo Federal e pela Rede Globo (que havia instalado totens-relógios em todas as capitais do país), não aceitariam nenhuma dissonância.

Bem cedo naquele dia, a marcha seguia pelo acostamento da estrada NO SENTIDO OPOSTO  à festa oficial.

Pouco tempo depois, helicópteros começavam a sobrevoar a rodovia. Ônibus e viaturas da polícia cruzaram em alta velocidade os caminhantes. Centenas de homens da PM começaram a se posicionar no caminho.

Escudos e armas em punho, não levou nem cinco minutos para que as primeiras bombas fossem disparadas, sem que NENHUMA explicação tenha sido dada, sem que nenhuma negociação tenha sido tentanda, sem que nenhuma “afronta à ordem” ou crime tivesse sido cometido pelos manifestantes. Eles apenas caminhavam no sentido contrário à festa oficial.

Explosões, tiros, corre-corre, gás… O cenário que já havia se tornado tradicional na virada do milênio se repetia mais uma vez em Porto Seguro.

Além da abertura dos mercados e da privatização de estatais, a principal realização do governo FHC foi o sufocamento violento de todos os movimentos sociais, que viviam tempos de ebulição.

Os anos em torno da virada do milênio foram marcados por manifestações massivas do diversos setores da população. Milhares de pessoas saíam às ruas a cada chamado de ação contra o leilão de  privatização de uma empresa estatal, a favor da educação, contra a Alca, em defesa da educação…

A “Era FHC” foi, provavelmente, o momento histórico da curta vigência da democracia no país em que mais se utilizou as forças policiais e militares contra a população. Nenhum presidente eleito repudiou, ironizou, desqualificou e reprimiu tanto as manifestações populares quanto FHC.

Quase todas as manifestações terminavam com bombas, agressões, tiros, prisões e cacetadas. Quase todas as manifestações eram forradas de policiais sem identificação, agentes e provocadores infiltrados que atiravam algum objeto contra a polícia para justificar a “reação”, sempre desproporcional e brutal. Tudo sempre relatado pela mídia colonizada como “um confronto com a polícia”, uma explicação simplista para caracterizar qualquer tipo de manifestação como “baderna”.

Naquela manhã em Porto Seguro, quase 200 pessoas foram detidas pelas centenas de policiais. Depois de algumas horas “de molho”, foram levados à delegacia em três ônibus e liberados no meio da tarde sem nenhuma acusação ou processo. A missão dos “agentes da ordem” era apenas impedir o exercício do direito constitucional à manifestação.

Naquela tarde, indígenas que marchavam de Cabrália à Porto Seguro também foram recebidos com mais bombas e tiros, proibidos de participar do “petit comitè” armado por FHC, ACM, Globo e amigos.

A “festa” dos 500 anos, como dito acima, foi apenas mais um capítulo de um dos governos “democráticos” mais autoritários que este país já teve. A experiência de Porto Seguro foi, talvez, o auge da repressão, o massacre escancarado da liberdade de manifestação. A ação da polícia foi arbitrária e brutal, mas não foi única naquela virada de milênio.

foto: barraoaumento

Resolvi retirar as fotos e a história acima do armário depois de ler o relato da última manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus na capital. A sensação é de deja vu ao ler que a polícia agiu com brutalidade simplesmente para impedir que os manifestantes entrassem no terminal do Parque Dom Pedro.

A ação “preventiva” da polícia em um Estado Democrático não deve estar baseada no uso da violência desmedida contra cidadãos que não cometeram nenhum delito, mas que “poderiam cometer”. Isso é característica de estados totalitários. Infelizmente, a “Era FHC”, das bombas, tiros e policiais sem identificação reprimindo manifestações parece estar longe de acabar no Brasil.

Amanhã, quinta-feira (14/01), tem outro ato contra o aumento da tarifa. Concentração às 16h30 no Teatro Municipal, saída às 17h30.

Diários de Bicicleta – resultado na segunda-feira (18)

diarios_de_bicicleta

reprodução: Amarylis

Pequeno atraso, mas o resultado do Concurso Literário Diários de Bicicleta sai na próxima segunda-feira (18).

Foram 22 textos recebidos no final de dezembro. Dois autores serão contemplados com uma edição brasileira do livro Diários de Bicicleta, de David Byrne (uma cortesia do selo Amarylis).

Os vencedores serão escolhidos por um juri composto de três pessoas e os textos escolhidos serão divulgados aqui no blog.

A placa mais bonita de Copacabana

Tão simples, tão eficiente: veículos motorizados em baixa velocidade são menos perigosos. Ruas compartilhadas: a solução mais moderna e barata para estimular a mobilidade urbana inteligente. Em Copacabana, Rio de Janeiro, boa parte das ruas já recebeu estas placas.

zonas 30 em Copacabana – blog transporte ativo